A biosseguridade pode ser definida como um conjunto de medidas que visam impedir e controlar a entrada de microrganismos patogênicos, e caso a doença entre, direciona o que fazer para contê-la e evitar que ela se dissemine na granja. Dessa forma, essas medidas devem ser vistas como um programa de biosseguridade, onde todos os procedimentos implementados atuam de forma integrada, garantindo a sanidade do plantel e melhores índices zootécnicos e econômicos. De acordo com Rosales (2018), “…a biosseguridade não é puramente uma área técnica, mas um dos pilares do sistema de produção para conseguir o máximo de retorno dos investimentos feitos em outra área…”.
No cenário atual da avicultura, a biosseguridade tem se tornado essencial no controle de doenças de grande impacto econômico, com elevados índices de morbidade e mortalidade como Influenza Aviária, Doença de New Castle, entre outras. Os empresários e profissionais ligados à indústria avícola se vêem cada vez mais obrigados a priorizar a biosseguridade para garantir a rentabilidade das empresas do setor avícola. Além disso, outro fator relevante é o mercado consumidor, que tem se tornado exigente em relação aos produtos de origem animal. Produtores têm sofrido uma pressão grande no uso de antibióticos, sendo obrigados a atuar mais na prevenção do que no tratamento das doenças.
Como as doenças podem entrar na granja?
As doenças podem ser inseridas no meio produtivo por duas vias de transmissão: vertical e horizontal. A forma vertical é caracterizada quando as aves de reposição do plantel já chegam com alguma doença que lhe foi transferida pelos progenitores via transovariana, como pode acontecer com a Salmonela spp.
A forma horizontal pode ser caracterizada pela transmissão de ave a ave dentro do mesmo lote ou em lotes próximos. Também pode acontecer através de aves silvestres que tenham contato com as aves em produção. Além disso, a transmissão horizontal das doenças se dá por outras formas como maquinários/materiais infectados (fômites), biológicos como as pragas (roedores e moscas), animais domésticos e o homem.
O entendimento da forma de transmissão das doenças no plantel é de grande relevância para que se consiga controlá-las.
Quais as medidas de biosseguridade que podem ser implementadas nas granjas?
O programa de biosseguridade deve ser planejado para cada granja conforme a identificação dos fatores de risco (introdução de patógenos na unidade, tamanho do plantel, etc), a condição estrutural, procedimentos operacionais, e o compromisso da empresa para com o programa. Dessa forma, o Programa pode ser visto como uma corrente, onde os elos representados pelas medidas têm a mesma importância e atuam de forma conjunta, conforme o demonstrado na figura abaixo:
Algumas medidas que devem ser consideradas:
O isolamento da unidade, núcleo e aviários deve ser feito através de cinturão verde, cercas e telas. A localização dos aviários deve respeitar uma distância mínima de 500 metros entre os galpões, assim como dos setores de cria/recria para produção (JAENISCH, 1991). O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) por sua vez, implementou uma normativa que regulamenta as medidas higiênico-sanitárias e de biosseguridade que devem ser adotadas pelo estabelecimento avícola (BRASIL,2007).
O controle do tráfego de veículos e pessoas é o primeiro fator a ser considerado e todo o controle deve ser realizado pela portaria ou responsável do local, a fim de evitar a introdução de patógenos e possíveis doenças. O local de origem dos visitantes deve ser registrado no caderno de visitas que deve constar também o período de vazio sanitário (último contato com aves) (ABPA, 2017). Para ter acesso à área produtiva, os colaboradores e visitantes devem tomar banho e realizar a troca de uniformes e calçados adequados na entrada da granja/ núcleos.
A limpeza e desinfecção devem ser realizadas após a saída dos lotes, priorizando sempre a limpeza seca (retirada dos resíduos como esterco, ração, entre outros) e a limpeza úmida (lavagem com detergente e desinfecção).
O programa de vacinação deve ser estabelecido pelo Médico Veterinário responsável, conforme a obrigatoriedade estabelecida pelo MAPA no Plano de sanidade avícola (PNSA) e de acordo com os agentes isolados ou endêmicos na região (BRASIL, 2002). Além disso, as aves devem ser monitoradas regularmente por necropsias, exames laboratoriais, resultados zootécnicos e sempre que forem introduzidos lotes novos, deve ser feito o acompanhamento necessário para que evite a introdução de doenças no plantel. As mortalidades devem ser descartadas de forma correta (compostagem, incineração ou desidratador, rotoacelerador) diariamente e o local de manejo das aves mortas deve ser isolado para impedir contato com aves silvestres e roedores.
O controle de pragas e roedores deve ser seguido de forma rigorosa, conforme a IN56/2007/MAPA, capítulo III – Art.21° VII, pois os roedores são refratários para muitas doenças e podem levar patógenos aos aviários. Assim como o controle da qualidade de água e alimento também é importante na introdução desses agentes, podendo desencadear uma doença rapidamente no plantel.
Todas as medidas de biosseguridade são planejadas para evitar a introdução de doenças no plantel, no entanto, caso o processo tenha falhas, é necessário estabelecer um plano de contingência objetivando a resolução rápida do problema com prejuízos financeiros menores.
Após a implementação do Programa de Biosseguridade, devem ser realizadas auditorias internas regularmente para avaliar se os procedimentos estão sendo seguidos e caso seja detectada alguma falha, essa deve ser corrigida imediatamente. Todos os procedimentos devem ser registrados.
Enfim, o Programa de Biosseguridade é vital para a saúde financeira de uma empresa e permite aos responsáveis tomar medidas de prevenção e contingência para evitar a transmissão de uma doença dentro do sistema de produção, visando melhora nos resultados. No entanto, para garantir o êxito do programa, o principal desafio é o engajamento das pessoas do processo de todas as categorias da empresa, desde o presidente da empresa até o colaborador operacional.
A equipe Inata pode te ajudar na biosseguridade da sua granja. Fazer contato!
Leitura complementar:
JAENISCH, F. R. F. Aspectos de biosseguridade para plantéis de matrizes de corte. Instrução Técnica para o Avicultor. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 1991
ROSALES, A.G. Establecimiento e Implementación de un Programa Efectivo de Bioseguridad In: XIV SEMINÁRIO INTERNACIONAL PATOLOGÍA Y PRODUCCIÓN AVIAR. Athens, Alabama 2018. p.8-20
ABPA. Associação Brasileira de Proteína Animal. Manual de Procedimentos de Biosseguridade ABPA. Disponível em: http://abpa-br.com.br/files/publicacoes/754e271259709eda82e5f4d37aa5d39f.pdf, 2017. Acesso em: 24/06/2019
BRASIL. Ministério da Agricultura e Abastecimento. Instrução Normativa, nº 56, de 04 de dezembro de 2007. Disponível em: http://sistemasweb.agricultura.gov.br/sislegis/action/detalhaAto.do?method=visualizarAtoPortalMapa&chave=1152449158. Acesso em: 24/06/2019
BRASIL. Ministério da Agricultura e Abastecimento. Legislação de Defesa Sanitária Animal Avicultura – Programa Nacional de Sanidade Avícola. Disponível em: https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/programa_nacional_sanidade_avicola_000fyh51e9y02wx5ok0pvo4k3xecpyt9.pdf, 2002. Acesso em: 24/06/2019