Reovírus: prejuízos econômicos na avicultura brasileira

A produção avícola brasileira está cada vez mais intensificada. O número de aves abatidas no Brasil atingiu 6,18 bilhões em 2021, isso significa alta de 2,8% ou 169,87 milhões de cabeças a mais na comparação com o ano de 2020. (ABPA, 2022). Contudo, alguns problemas sanitários têm acompanhado o crescimento expressivo do mercado, trazendo diversas perdas aos produtores, sendo um dos principais o reovirose.
A doença é causada pelo Reovírus, um vírus RNA que está associado com problemas de refugagem, desuniformidade, síndrome do nanismo (Runting and Stunting Syndrome), miocardite e enterites. Além dos problemas mencionados, a tenossinovite (artrite viral) é um achado importante que causa grandes prejuízos, dado grau de condenações de coxas encontrado no abatedouro. (NARANJO, 2011)
A multiplicação do agente viral na ave, tem como via inicial de multiplicação os sistemas digestivos e respiratórios, tendo como sinais clínicos iniciais; dispneia e disfunções intestinais. Após a multiplicação do Reovírus nos sistemas citados, ele ganha a corrente circulatória da ave, migrando para outras regiões do organismo. Na região de capsula articular, após a sua multiplicação no tecido, ele costuma gerar um quadro de artrite (tenossinovite), onde em casos extremos pode haver a ruptura do tendão gastrocnêmico.
O Reovírus, assim como outros agentes virais, possui como forma de transmissão as vias vertical e horizontal. Na via de infecção vertical, as matrizes infectadas durante a produção transmitem o agente para a progênie, levando a um quadro clínico com mortalidade e morbidade significativas. Em aves provenientes de matrizes infectadas é possível observar nas 3 primeiras semanas de vida, sinais clínicos como: refugagem, desuniformidade, diarreia, penas eriçadas (pintinhos helicópteros), dificuldade respiratória e mortalidade acentuada. Nos casos de artrite causada pelo Reovírus, o sinal clínico é mais evidente no terço final da vida do frango corte. Os animais apresentam um aumento de tamanho da articulação tibiotársica, podendo haver ou não um aumento da produção de líquido sinovial, com isso sua locomoção dentro do aviário se torna limitada, potencializando um quadro de refugagem e aumento da mortalidade das aves.
Diferente da infecção por outros agentes virais, quando a matriz em produção se infecta com uma cepa de campo de Reovírus, ocorre por um período a transmissão vertical somente do agente para a progênie, quando a matriz começa a soro converter para o agente é transmitido para a prole não somente os anticorpos, mas também ocorre a transmissão do antígeno, assim mantendo a doença no plantel. Os casos de transmissão da doença e de anticorpos pode se manter por um período de um (1) há três (3) meses.
A transmissão horizontal tem papel importante na disseminação e recirculação dos Reovírus dentro dos planteis, ocorrendo a infecção através de fômites e no contato entre aves. O vírus está presente nas fezes, nas secreções respiratórias e na urina, sendo que grandes quantidades de partículas virais são encontradas nas fezes.
O Reovírus aviário possui em sua classificação 6 clusters (grupos) distintos a partir da região preservada do gene σC. Sua classificação pode ser realizada através do teste de filoginia genética. É possível observar grande impacto da variabilidade genética do vírus na sua capacidade de resposta sorológica, o que dificulta o controle por vias convencionais.

Outro método de tipificação e classificação de Reovírus é através de análises sorológicas, sendo possível a classificação através dos cruzamentos de anticorpos presentes no soro com o agente específico isolado (ligação antígeno e anticorpo).

Reovírus: um panorama geral sobre a doença no Brasil:

Perdas expressivas, na ordem de 30-40%, têm sido relatadas recentemente em virtude de problemas de condenação no abatedouro. O quadro clínico envolvendo problemas articulares é de longe o mais impactante em termos econômicos.

Foto 2: Lesões articulares bilaterais em abatedouros – ruptura de tendões gastrocnêmico (Acervo Inata)

Foto 3: Lesões articulares bilaterais em abatedouros (Acervo Inata)

Foto 4: Condenação em abatedouro (Acervo Inata)

Foto 5: Lesões articulares bilaterais em aves com 15 dias de idade (Acervo Inata)

Hoje existem diversas ferramentas para diagnóstico e detecção desse agente:

  •  A PCR é uma técnica molecular com potencial para identificar a presença de regiões preservadas do genoma do Reovírus no tecido de eleição;
  •  a Histologia permite a visualização de infiltrados leucocitários no órgão coletado e fixado em formol;
  • técnicas sorológicas, como ELISA e a Soroneutralização Viral podem ser utilizadas para pesquisa de Anticorpos contra Reovírus;
  • o Isolamento do Reovírus pode ser realizado em ovos ou substrato celular


Quais são os melhores métodos de prevenção do mercado?

O tratamento da infecção por Reovírus assim como qualquer agente viral é inviável. Antimicrobianos injetáveis ou utilizados em águas de bebidas e rações podem ser utilizados (sempre sob supervisão de um médico veterinário) para tratamento de infecções bacterianas secundárias, em caso de surtos no lote, dependendo dos agentes presentes na granja.
O melhor tratamento para o Reovírus é a prevenção, tendo como estratégia a utilização de bons procedimentos de biosseguridade como; bom vazio sanitário, tratamento e desinfecção de aviários após a saída dos lotes, e intervalos de alojamentos maiores.
Outra forma de prevenção do desenvolvimento da doença é a vacinação das aves. Contudo, nem sempre os resultados são ótimos, pois devido a grande variabilidade genética do agente, aves vacinadas com determinada cepa podem não responder ao agente agressor. Uma alternativa para desafios de lotes que já estão vacinados contra sorotipos comerciais é a utilização de vacinas autógenas. Nesse caso a vacina será produzida com o vírus isolado da unidade que está apresentando o problema clínico e a resposta tende a ser mais direcionada. Uma boa soroconversão deve conseguir auxiliar no controle da doença e no impacto gerado por ela.

INATA Biológicos. Proteção na Medida Certa.

Por Vinícius Borges de Faria.

       Assistente Técnico Comercial INATA – Aves.

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REFERÊNCIAS:

CARLI. Diagnóstico epidemiológico e molecular para Reovírus no Brasil. Porto Alegre. 2019.
FITZGERALD,S.D. Group I adenovírus infections.In: SAIF, Y.M.; FADLY, A.M.; GLISSON, J.R.; McDOUGALD, L.R.; NOLAN, L. K.; SWAYNE, D. E. Diseases of Poultry. 14.ed. Florida State: Blackell, 2020. P. 321 – 331.

NARANJO.L.F.N. Isolamento e propagação de Astrovírus, Adenovírus, Coronavírus, Parvovírus, Rotavírus e Reovírus de aves comerciais com problemas entéricos em ovos embrionados. São Paulo. 2011.

PITCOVSKI.J.; GOYAL.S.M. Avian Reovirus Infections: SAIF, Y.M.; FADLY, A.M.; GLISSON, J.R.; McDOUGALD, L.R.; NOLAN, L. K.; SWAYNE, D. E. Diseases of Poultry. 14.ed. Florida State: Blackell, 2020. P. 382 – 400.

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