Para relacionar sazonalidade com a sanidade das aves de produção, é necessário verificar quais doenças ou agentes de doenças apresentam variação no seu comportamento, relacionada à época do ano ou estações.
Em verdade, são várias doenças que apresentam esse fenômeno da sazonalidade, muitas vezes devido ao próprio agente etiológico e outras devido às mudanças que ocorrem no organismo das aves conforme a época do ano, seja por variação de temperatura/umidade, seja por variação na intensidade de luz.
Vamos analisar separadamente os dois aspectos.
Doenças que apresentam sazonalidade devido a mudanças no organismo das aves de produção
Alguns fatores sazonais que causam modificações no organismo das aves e respectivas enfermidades:
Baixas temperaturas:
o conceito é um pouco subjetivo pois não se pode afirmar com exatidão abaixo de qual temperatura se inicia o efeito deletério sobre o organismo, mas sabe-se que a faixa de temperatura considerada como de conforto para aves adultas, situa-se entre 18ºC e 28ºC , havendo ainda variação devido à sensação térmica, ligada à umidade e velocidade do ar. Pode-se portanto inferir que abaixo de 18ºC se inicia um desafio ao organismo que precisa acionar o sistema de homeotermia. Um dos mecanismos que o organismo lança mão é a vasoconstrição periférica, o que leva o fluxo de sangue nos pequenos vasos e interstícios a diminuir e consequentemente aumentar o volume e fluxo sanguíneo nos grandes vasos, o que tem o intuito de preservar a temperatura sanguínea e dos órgãos vitais, consequentemente. Esta diminuição do fluxo sanguíneo nos pequenos vasos e interstícios leva à consequente diminuição da presença de elementos de imunidade, inata e adquirida, nessas regiões de circulação periférica, onde se incluem as mucosas digestivas, respiratórias e gênito-urinárias, que são verdadeiras interfaces entre o meio externo e o interior do organismo, sendo assim, locais de acesso a diversos tipos de microrganismos.
As mucosas são, portanto, locais de intensa e constante “batalha” imunológica. Com a citada diminuição do afluxo de elementos de defesa, causada por baixas temperaturas, ocorre uma facilitação do estabelecimento de infecção de organismos patogênicos recém-chegados ao local ou já presentes de forma latente. Como exemplos de doenças que afetam a sanidade das aves de produção e que apresentam esse comportamento temos:
Doenças respiratórias: Bronquite Infecciosa, micoplasmose, pneumovirose, laringotraqueíte infecciosa, doença de Newcastle de baixa virulência, colibacilose.
Doenças entéricas: Salmonelose, clostridiose, rotavirose, reovirose.
Doenças gênito-urinárias: Salpingites e ooforites inespecíficas.
Altas temperaturas:
Da mesma maneira que no caso de baixas temperaturas não se pode precisar em que temperatura começa a haver efeito negativo, mas levando em consideração a faixa de conforto, pode-se dizer que a partir dos 28ºC o organismo das aves começa a utilizar o sistema de homeotermia que no caso de altas temperaturas inclui a perda de calor pelo ar expelido dos pulmões. Quanto mais alta for a temperatura (e umidade também) maior afluxo de sangue nos pulmões, o que leva a uma estase do sistema circulatório. Esta estase também diminui a eficiência do sistema imunológico, possibilitando o aparecimento de doenças entéricas, principalmente clostridiose.
Baixa umidade:
Em regiões onde o período seco coincide com temperaturas baixas, tem-se um agravante no organismo com relação à maior susceptibilidade a doenças: a umidade baixa diminui (talvez por gradiente de umidade do ar inspirado) o teor de umidade e muco da mucosa respiratória das aves. O muco contém elementos de imunidade inata e a umidade ajuda a preservar a integridade do epitélio. Com a diminuição de ambos, fica facilitada a infecção por agentes de doenças respiratória como por exemplo: vírus da bronquite, metapneumovírus aviário, micoplasmas, E. coli, vírus de Newcastle.
Doenças que apresentam sazonalidade devido a mudanças nos agentes etiológicos
Os agentes etiológicos de doenças são influenciados por mudanças das estações do ano, de formas diversas, com consequente influência na sanidade das aves de produção. Citamos abaixo alguns exemplos:
- Com a entrada da primavera e consequente aumento da temperatura e da luz, alguns agentes etiológicos de doenças aumentam sua prevalência. Isto é devido ao aumento das atividades dos vetores/carreadores (insetos e aves de voo livre), principalmente ligado à reprodução deles. Como exemplo temos: Salmonelose, doença de Marek, doença de Gumboro, doenças respiratórias virais em geral, micoplasmose, pasteurelose, bouba aviária, infecções por protozoários (histomoníase), estafilococose.
- No inverno, as baixas temperaturas ajudam a manter viáveis agentes sensíveis a temperaturas mais altas e também facilitam a disseminação dos mesmos, principalmente os respiratórios, em galpões onde se tenta preservar a temperatura através da diminuição das trocas de ar. São exemplos as doenças respiratórias como bronquite, micoplasma, laringotraqueíte.
- No final da estação seca/começo das chuvas que é o ponto mais distante da safra de milho anterior, existem relatos e correlações com maior incidência de micotoxicose devido a possível utilização do “fundo dos estoques” (fundo dos silos), onde possivelmente exista uma maior quantidade de grãos velhos e com maior concentração da toxina.