Astrovírus (CAstV): já ouviu falar sobre esse agente?

A cadeia avícola brasileira está cada vez mais em destaque, sendo o Brasil o maior exportador de carne de aves do mundo. O país deve chegar há um número de 4,9 milhões de toneladas do produto exportado em 2022, 6% a mais em relação há 2021 (ABPA, 2022). Contudo, mesmo com grandes inovações alcançadas por melhorias genéticas e desenvolvimento de novas tecnologias a campo, alguns problemas sanitários ainda têm causado grandes prejuízos aos produtores, devido ao desconhecimento das características dos agentes infecciosos, formas de diagnóstico e prevenção. Um desses agentes causadores de problemas é o Astrovírus. 

O Astrovírus é um RNA vírus, de polaridade positiva, envolvido por uma cápside icosaédrica. A família Astroviridae está dividida em dois gêneros Mamastrovirus (Astrovírus de mamíferos) e Avastrovirus (Astrovírus aviário). Por possuir características de infecção, em sítios de multiplicação principalmente em regiões intestinais e de sistema renal, essa síndrome tem como consequência grandes prejuízos para produção, principalmente em frangos de corte recém alojados. Fazendo com que os animais apresentem quadros clínicos como: refugagem, desuniformidade, diarreia, perda de desempenho e um dos achados característicos para o agente é a presença de pintos brancos em incubatórios e em lotes recém alojados, levando um nome popular como “síndrome do pintinho branco” (NARANJO, 2011). 

Possui como forma de transmissão as via verticais e horizontais. A via de transmissão vertical, assim como em outros agentes é considerada a mais importante, pelo alcance de disseminação gerado, devido à estrutura piramidal da avicultura industrial. Quando lotes de matrizes se infectam durante a produção, ocorre a transmissão do agente para a progênie, sem a transmissão de anticorpos, causando doença com mortalidade e morbidade significativas.  

A via de transmissão horizontal é importante na disseminação e recirculação do Astrovírus dentro dos planteis, principalmente quando levamos em consideração a presença de alojamentos mistos com lotes de frangos de cortes de várias origens, contendo lotes provenientes de matrizes que estejam apresentando desafio da doença e lotes provenientes de matrizes que não tiveram o contato com o agente infeccioso. O vírus está presente nas fezes e em secreções respiratórias. Sendo encontrado em maior quantidade nas fezes. 

O contato com o agente e a imunidade assim desenvolvida, não impede a reinfecção, desde que os níveis de anticorpos, circulantes ou locais, importantes para diferentes vias de infecção, tenham caído a níveis mínimos.  

Em infecções por Astrovírus (CAstV), assim como ocorre com outros agentes virais (Reovírus), quando a matriz em produção se infecta com uma cepa de campo, ocorre por um período a transmissão vertical somente do agente para a progênie, quando a matriz começa a soro converter para o agente, é transmitido para a prole não somente os anticorpos, mas também ocorre a transmissão do antígeno, mantendo assim a doença circulante no plantel. 

 Diagnosticado e estudado primeiramente em perus, infecções por Astrovírus induz lesões histopatológicas em várias regiões de intestino delgado, caracterizadas por hiperplasia de criptas intestinais, onde mais tarde foi possível identificar essas mesmas lesões em galinhas infectadas pelo agente.  

Além de sítios de infecção como intestino e rins, um dos principais sítios de multiplicação do agente é o pâncreas. Com essa característica de multiplicação, casos de refugagem e desuniformidade, são cada vez mais comuns em casos de infecção por Astrovírus. 

Ao contrário de outros agentes virais de multiplicação entérica, a infecção não induz atrofia da vilosidade intestinal. Pesquisas realizadas, mostram que, como forma de disseminação no organismo e “driblar” o sistema imunológico, o Astrovírus atua inibindo o IFN-1, que possui como função inibir a replicação viral, permitindo assim disseminação do agente. Tornando assim, o Astrovírus um agente com características de infecções primárias e um grande potencial imunossupressor. (REYNOLDS; SCHULTZCHERRY, 2008). 

O gênero Avastrovirus possui uma divisão em 7 genótipos, com hospedeiros de origens distintas e sítios de infecção diferentes, incluído o genótipo de Astrovírus responsável pela síndrome da nefrite aviária (AAstV 2). São eles: 

Astrovírus: um panorama geral sobre a doença no Brasil: 

O aumento de diagnósticos voltado para a presença de Astrovírus (CAstV) em planteis de frangos de corte pelo Brasil, tem crescido de forma exponencial nos últimos anos. E junto a esses relatos apresentados, se destaca como forma de característica principal da doença, achados clínicos como refugagem e desuniformidade iniciais (entre primeira a terceira semana), quadros de diarreia e presença de “pintos brancos” nascidos em incubatório.  

 

 

Micrografia Astrovirus (Ferreira, 2015)
Desuniformidade entre aves provenientes de um mesmo lote (Acervo Inata)
Presença de pintos brancos em incubatório (Acervo Inata)
Lâmina intestinal, apresentando hiperplasia de células de cripta intestinal (Acervo Inata)

Felizmente, hoje existem diversas ferramentas para diagnóstico e detecção desse agente: 

  • A PCR é uma técnica molecular com potencial para identificar a presença de regiões preservadas do genoma de Astrovírus no tecido de eleição; 
  • A histologia permite a visualização de hiperplasia de células de criptas intestinais em órgãos coletados e fixados em formol; 
  • Isolamento do Astrovírus pode ser realizado em ovos embrionados ou substrato celular. 

Métodos de prevenção presentes no mercado: 

O tratamento da infecção por Astrovírus assim como qualquer outro agente viral é paliativo, sendo o mesmo realizado através de procedimentos de biosseguridade como: vazio sanitário, tratamento e desinfecção de aviários após a saída dos lotes, intervalos de alojamentos maiores e evitar alojamento misto entre lotes. Outra forma a ser utilizada, são procedimentos de desinfecções de aviários e equipamentos para que haja uma redução da carga viral no ambiente.  

Antimicrobianos injetáveis ou utilizados em águas de bebidas e rações podem ser utilizados para tratamento de infecções bacterianas secundárias ao problema inicial. A melhor forma de prevenção do desenvolvimento da doença é a vacinação preventiva das aves.  

A opção que a INATA traz para o mercado é a utilização das vacinas autógenas (granja específica), onde será produzida a vacina com o agente específico isolado na propriedade (na granja) onde foi coletado o material para análise. Assim, qualquer um ou uma combinação dos subtipos isolados de Astrovírus, podem ser utilizados na produção da referida vacina autógena, tornando a imunização dos animais mais eficaz. 

 

Autor: Vinícius Borges de Faria (Assistente Técnico Comercial Inata Produtos Biológicos) 

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