Salmonelose em Bezerros Leiteiros

Introdução As doenças entéricas e respiratórias são os maiores desafios sanitários nos bezerreiros das propriedades leiteiras e impactam direta e negativamente na rentabilidade da atividade. Por exemplo, pode-se citar o alto custo com tratamentos, visto que são doenças de alta morbidade que comprometem a produtividade futura dos animais afetados. Além disso, os tratamentos podem apresentar baixa efetividade, já que algumas cepas bacterianas são multirresistentes aos antibióticos utilizados, aumentando as taxas de mortalidade e de descarte de animais. Dentre as causas de mortalidade em bezerros leiteiros, destaca-se a salmonelose. Salmonella enterica sorovar Dublin é uma bactéria Gram-negativa cosmopolita de grande importância para humanos como zoonose e para bovinos devido a sua alta capacidade invasiva e patogênica. Os quadros clínicos causados por esta bactéria apresentam uma severidade considerável, visto que muitos podem evoluir a óbito e os animais que permanecem vivos perdem desempenho, principalmente nas fases de cria e recria.  Transmissão A principal via de transmissão é a fecal-oral, isto é, a infecção ocorre quando animais susceptíveis ingerem a bactéria, que foi disseminada no ambiente pelos animais infectados através de suas fezes e secreções corporais (saliva, colostro e leite).  A Salmonella invade e se multiplica nos enterócitos e, ao cair na circulação sanguínea, é transportada para outros órgãos tais como fígado, pulmão, baço e linfonodos, podendo causar septicemia. Os animais portadores, sendo que alguns podem ser assintomáticos, fazem com que a disseminação seja contínua, dificultando o controle da doença. Aves silvestres e roedores também contribuem para a disseminação dessa bactéria no ambiente. Também há relatos de transmissão intrauterina da Salmonella da vaca portadora para o feto durante a gestação. O fornecimento do leite de descarte não pasteurizado para alimentação das bezerras lactantes pode conter a Salmonella e assim servir como fonte de infecção para esta categoria animal. Fonte: Velasquez-Munoz et al. (2024) Sinais clínicos A salmonelose é uma doença que geralmente ocorre na forma de surtos. A severidade dos quadros clínicos causados pela Salmonella Dublin é maior em relação aos demais sorovares de Salmonella devido à sua capacidade invasiva. Bovinos de todas as idades podem ser acometidos, no entanto os casos são mais comuns entre 2 e 12 semanas de vida, e se apresentam com sinais respiratórios, possuem difícil tratamento e prognóstico desfavorável. Dentre os sinais demonstrados pelos animais doentes, tem-se: Febre; Depressão; Anorexia; Pneumonia; Tosse; Aumento da frequência respiratória; Diarreia; Desidratação; Septicemia; Uma variação dos sinais clínicos pode ocorrer em função da dose infectante, virulência da cepa, idade e status imunológico do animal acometido. Fatores estressantes tais como transporte, superlotação, subnutrição, uso de antibióticos, imunossupressão e outras doenças concomitantes podem alterar a microbiota intestinal e favorecer a proliferação da Salmonella no intestino. Diagnóstico É de suma importância a realização do diagnóstico da salmonelose, já que a os sinais clínicos dessa doença se confundem com os de outras doenças comuns que acometem bovinos, como pneumonia e tristeza parasitaria. A anamnese e o histórico dos sinais clínicos observados nos animais doentes associados ao diagnóstico laboratorial são imprescindíveis para confirmar a suspeita da salmonelose. Em alguns casos é possível fazer a identificação e o isolamento da Salmonella Dublin a partir das fezes dos animais doentes. Nos animais que evoluem à óbito, recomenda-se a coleta de órgãos como fígado, vesícula biliar, pulmão, linfonodos mesentéricos para cultura microbiológica e exame histopatológico, para auxiliar na confirmação da doença. Para manter a Salmonella viável no material de necropsia, utiliza-se o caldo Rappaport como meio de transporte. Tratamento e prevenção O controle e a erradicação da Salmonella Dublin nos rebanhos leiteiros são dificultados pelo fato de alguns animais clinicamente saudáveis serem portadores desta bactéria e a disseminarem no ambiente, favorecendo a contaminação de mais animais saudáveis. O tratamento da salmonelose baseia-se na terapia de suporte (controle da febre, hidratação e inflamação) e no combate à bactéria no organismo por meio do uso de antimicrobianos. Ao diagnosticar a Salmonella Dublin, é importante realizar o teste de sensibilidade aos antimicrobianos como exame complementar a fim de selecionar a melhor base para que o tratamento seja efetivo e que o animal se recupere. Vale ressaltar que a efetividade do tratamento depende do estágio da doença, quanto mais avançado mais difícil se torna a reversão do quadro clínico.   A adoção de medidas de biosseguridade, tais como fornecimento de colostro em quantidade e qualidade adequados, desinfecção e limpeza das instalações, isolamento e tratamento dos animais doentes, eliminação das possíveis fontes de infecção (exemplo: controle de roedores e aves no sistema de produção leiteiro), entre outras podem minimizar a ocorrência desta doença. E em caso de surto de salmonelose, o que fazer? 1º passo: Diagnóstico – É essencial entendermos quem é o agente patogênico causador dos quadros de doença na fazenda, a fim de direcionar o tratamento mais eficaz e tentar combater a causa do problema; 2º passo: Levantamento epidemiológico – Buscar informações sobre os casos, taxas de morbidade, mortalidade e letalidade, faixa etária acometida, evolução da doença, entre outros. 3º passo: Plano de ação – Com o diagnóstico e o histórico do problema em mãos é possível traçar estratégias para mitigar novos casos, tratar efetivamente os animais doentes, reduzir a pressão de infecção e as possíveis fontes de transmissão da Salmonella na propriedade leiteira; 4º passo: Avaliação dos resultados e monitoramento epidemiológico contínuo. A utilização das vacinas autógenas para prevenção da salmonelose tem se mostrado uma ferramenta efetiva para minimizar os prejuízos causados por esta doença. O diferencial das vacinas autógenas quando comparadas às vacinas comerciais de linha disponíveis no mercado é a fração antigênica, a qual é composta pela cepa de Salmonella Dublin que foi isolada a partir de material biológico coletado de animais doentes em uma determinada propriedade leiteira. Em outras palavras, a cepa causadora da doença é a mesma que irá compor a vacina autógena, gerando um produto personalizado que induz uma resposta imune mais específica contra a Salmonella Dublin. Nas fazendas leiteiras monitoradas pelos consultores técnico-comerciais da Inata Biológicos observa-se uma redução na pressão de infecção causada pela Salmonella com a utilização da vacina, além da redução na