PRESSÃO DE INFECÇÃO NA SUINOCULTURA

“Pressão de infecção” é uma expressão que diz respeito à carga microbiológica que circula no ambiente com potencial patogênico aos animais. Quanto maior a pressão de infecção, maior é a chance do surgimento de doenças clínicas no plantel. O sistema intensivo da suinocultura possui naturalmente uma pressão de infecção maior comparado a outros sistemas, devido a fatores como: concentração de granjas em determinadas áreas geográficas, alta densidade, sistemas de manejo contínuo, e contato com dejetos.  Á partir do momento em que se povoa uma nova instalação, a carga microbiológica do ambiente começa a aumentar e, com o passar do tempo, a carga é cada vez maior. Em um determinado momento, se não houver manejos estratégicos, a carga microbiológica é tão alta que ultrapassa um limiar em que o organismo dos animais é capaz de suportar, ocasionando perda de desempenho e doença clínica nos animais. Um exemplo disso é a falha no manejo de limpeza e desinfecção nas granjas, comprometendo não somente a sanidade dos animais, como também seu desempenho. Pensando nisso, Floch et al. (2014), alojaram um grupo de animais em fase de crescimento a condições de higiene ruis, caracterizada pelo alojamento em salas anteriormente ocupadas por suínos sem terem sido limpas nem desinfetadas antes e durante o período deste estudo. Enquanto, um segundo grupo foi alojado em condições boas, em salas limpas e desinfetadas.   As condições de higiene ruins diminuíram o desempenho dos animais em 20% (p<0,05), bem como, afetou a digestibilidade total dos nutrientes das rações fornecidas (p<0,001). Além disso, uma resposta inflamatória sistêmica nos animais alojados em condições ruins foi observada, com acréscimo de 50% em concentrações de haptoglobina, 10% em números de linfócitos e 40% em número de granulócitos (p<0,05), demonstrando o impacto negativo da falta de protocolos estruturados de limpeza e desinfecção e do aumento de pressão de infecção nas granjas. Á fim de reduzir a pressão de infecção e evitar seus efeitos negativos, diversas medidas vêm sendo utilizadas, como: manejo todos-dentro/todos-fora, protocolos rigorosos de limpeza e desinfecção, medidas de biosseguridade e, protocolos vacinais robustos. Scollo e colaboradores (2023), publicaram um artigo na Animals que buscou avaliar o impacto de práticas de biosseguridade personalizadas com treinamentos para as equipes de funcionários em 20 granjas de suínos ao longo de 12 meses. A pesquisa focou em reduzir a contaminação ambiental e o risco de propagação de doenças entre os animais, medidos através dos níveis de ATP (adenosina trifosfato) como indicador de contaminação e da presença de Escherichia coli. O treinamento específico das equipes resultou em melhora significativa nas condições gerais de biosseguridade das granjas (p = 0,006). Como consequência, houve uma redução média de 39% nos níveis de ATP no ambiente (p = 0,039) e diminuição de 30% na prevalência de Escherichia coli resistente a antibióticos (SCOLLO et al., 2023). Com estes resultados, fica evidente que planos de biosseguridade personalizados, aliados ao treinamento adequado das equipes são ferramentas necessárias na redução da pressão de infecção das granjas. Práticas que associem as diversas medidas para diminuição da pressão de infecção nas granjas são essenciais e vêm sendo estudadas. Uma delas, é a associação da implementação de biosseguridade com a vacinação dos animais. Nesse sentido, Lopez-Moreno e colaboradores (2022), avaliaram a eficácia de medidas internas de biosseguridade combinadas com a vacinação autógena massal de matrizes, a fim de prevenir a infecção pelo vírus influenza A em grupos de leitões desmamados em 6 granjas nos Estados Unidos. As práticas de biosseguridade interna avaliadas incluíram:  não movimentar leitões após 3 dias de idade, não utilizar mãe-de-leite para leitões atrasados (sem desmame segregado), troca de luva ao manusear leitões de diferentes leitegadas, não pisar nas gaiolas parideiras, desinfecção diária de ferramentas e materiais utilizados para manejar os leitões e funcionários segregados em blocos. Após 8 semanas de avaliação, foi observado que a incidência da infecção por influenza A foi reduzida em 62% nos grupos de leitões desmamados (p<0,05), e o número de leitões com sintomas clínicos, reduzido em 55% (LOPEZ-MORENO et al., 2022). Além disso, leitões do grupo de vacinação e biosseguridade apresentaram um ganho de peso diário médio 20% superior (0,9 kg/dia) em comparação com o grupo controle (0,75 kg/dia) (LOPEZ-MORENO et al., 2022). Estes resultados demonstram que a combinação de medidas rigorosas de biosseguridade e a vacinação das matrizes é capaz de reduzir a pressão de infecção também em doenças virais, como o caso da Influenza A. De maneira geral, reduzir a pressão de infecção na suinocultura é um desafio contínuo, que demanda bom conhecimento epidemiológico, gestão sanitária eficiente, e rigoroso cumprimento de protocolos de prevenção. A implementação de medidas de controle associadas são essenciais para garantir um bom resultado na redução dessa pressão. Autora: Julia Montes | Coordenadora Técnica Suínos – INATA Biológicos.