Avicultura

Controle de Pragas na Produção Avícola: Desafios e Estratégias

A relação produção e biosseguridade são fatores importantes para que o produtor mantenha seu plantel longe de desafios sanitários e obtenha melhores índices econômicos. As medidas de biosseguridade vão desde o isolamento da propriedade, controle do tráfego de pessoas e veículos, programa de vacinação, e controle de pragas. Essas medidas contribuem para diminuir os riscos sanitários fomentado pelo adensamento das aves e diminuição no tempo de intervalo entre os lotes. O controle de pragas é um ponto-chave na produção avícola e deve ser seguido de forma rigorosa, conforme a IN56/2007/MAPA, capítulo III – Art.21° VII, pois os roedores são refratários para muitas doenças e podem levar patógenos aos aviários. Atualmente é um dos principais aspectos da biosseguridade, onde o produtor adota medidas de manejo com objetivo de evitar ou mitigar os riscos de desafios sanitários em seu plantel, transmitidos também em alta infestação de pragas como roedores, cascudinhos e moscas, entre outras.  As pragas podem se tornar uns dos piores gargalos na avicultura. Os roedores têm como característica consumir alimentos que são bastante atrativos ao seu olfato. Portanto, acabam espalhando e contaminando a ração.  Fonte: Paulo Prudente Foto 1: Infestação por roedores, espécie – Rattus rattus. Da mesma forma, moscas e cascudinhos também representam pragas que prejudicam a sanidade e bem-estar do lote. Um ponto crucial é que grande parte dessas pragas servem como vetores de doenças prejudiciais ao plantel, como salmonela, coriza, E. coli, bouba e por isso devem ser controladas. Controle de Roedores Os roedores, como ratos e camundongos, são animais sinantrópicos altamente capazes de sobreviver e proliferar na natureza. Alguns estudos afirmam que cerca de um quinto da produção mundial é perdido devido aos danos causados por roedores. Na produção avícola, os ratos e camundongos têm como característica consumir, espalhar e contaminar até 20% das rações. Além dos danos às rações, esses animais também causam outros prejuízos, como danos a cortinas, contaminação da água e roedura de fios, entre outros. No entanto, o ponto mais preocupante é a contaminação de alimentos e água pela urina e fezes dos roedores, que também são vetores de doenças como salmonella spp e coriza infecciosa (BERCHIERI JUNIOR, 2009). Existem dois principais gêneros de roedores: Mus e Rattus, que se ramificam em três espécies de roedores sinantrópicos: Mus musculus, Rattus norvegicus e Rattus rattus, correspondendo ao camundongo, à ratazana e ao rato de telhado, respectivamente. Rattus novergicus (ratazana): popularmente conhecido como rato de esgoto, possui um corpo robusto e orelhas pequenas. Suas fezes têm formato de cápsula. Seu habitat natural são as galerias e tocas no solo, próximas a rios, córregos e lixões. É um nadador e escavador habilidoso, com uma área de atuação que se estende a até 50 metros ao redor de sua toca.” Foto 2: Ratazana no canto inferior direito e rato de telhado no canto superior. Fonte: Alisson Mezalira Foto 3: Tocas de ratazanas. Fonte: Paulo Prudente Mus musculus (camundongo): popularmente conhecido como catita, possui um corpo pequeno e esguio, apresenta orelha grandes em relação ao tamanho. Costuma habitar o interior de móveis e armários e é um excelente escalador. Sua área de atuação é um pouco menor em relação à ratazana, variando de cerca de 2 a 5 metros de distância de sua toca. O que o diferencia das outras espécies é sua alta curiosidade, enquanto a ratazana e o rato de telhado são mais receosos. Foto 4: Camundongo em galpão. Fonte: Alisson Mezalira Rattus rattus (rato de telhado): conhecido como rato preto, apresenta um corpo esguio e uma cauda longa, orelhas grandes e sem pelos. Seu habitat é em forros, tetos e silos, bem como em árvores e coqueiros. É comum encontrá-lo no interior de residências. É um excelente escalador e não tem o costume de fazer tocas. Seu perímetro de atuação é de cerca de 60 metros. Deixa rastros de gordura, pelos e fezes por onde costuma passar. Foto 5 e 6: Rato de telhado em estruturas metálicas nos galpões de produção Fonte: Paulo Prudente O controle integrado de roedores requer atenção e conhecimento dos hábitos específicos de cada espécie, bem como dos sinais de sua presença no ambiente. Portanto, é essencial garantir precisão no controle integrado de roedores. Um programa altamente eficiente é composto por três pilares: Prevenção; Monitoramento; Controle. A desratização é realizada por meio de agentes químicos, tais como granulados, iscas parafinadas, pó de contato, iscas frescas, entre outros, os quais são colocados em porta-isca de PVC. É importante lembrar que os roedores são altamente higiênicos e, portanto, têm o costume de marcar o ambiente com urina e fezes. Por isso, as portas-isca devem ser mantidas sempre limpas e as iscas precisam ficar suspensas para que não entrem em contato com a base da porta-isca. O monitoramento deve ser realizado por meio de planilhas que contêm indicadores como trilhas, roeduras, fezes, ninhos e tocas, além de registros de avistamento de ratos no ambiente. Controle de Cascudinhos Os alphitobius diaperinus (cascudinho) é um dos principais hospedeiros e vetores de patógenos na avicultura. Entre alguns desses agentes causadores de enfermidades, podemos destacar Escherichia coli, Salmonella spp., Marek e Gumboro (ANDREATTI FILHO et al, 2020). Dessa forma, são encarregados por problemas de forma direta e indireta na produção avícola. O cascudinho tem um ciclo de desenvolvimento que varia entre 45 e 90 dias, dividido em quatro fases: ovo, larva, pupa e adulto. A melhor época para sua reprodução é no verão, quando atinge as condições ideais de multiplicação, dessa forma nesse período o controle deve ser mais intenso com utilização de piretroídes. As fêmeas de Alphitobius diaperinus podem depositar até 2.000 ovos durante seu ciclo de vida, e os adultos podem viver até 400 dias. O cascudinho possui hábitos noturnos e durante o dia tende a se abrigar em frestas das camas, colunas, paredes ou sob equipamentos, principalmente os comedouros. A aplicação do inseticida deve ser realizada nesses locais, durante o intervalo entre os lotes. Foto 7 e 8: Cascudinho adulto e em fase de larva sobre cama enlonada no aviário. Fonte: Guilherme Baldissera

Mycoplasma Synoviae: a perda invisível de produção

A avicultura desempenha um papel vital na produção de alimentos em todo o mundo, fornecendo proteína de alta qualidade na forma de carne e ovos. No entanto, alguns agentes podem impactar a saúde e a produtividade das aves, como ocorre na infecção por Mycoplasma synoviae (MS), uma bactéria patogênica, presente principalmente em aves de postura comercial, mas que acomete também perus e faisões. O MS é reconhecido por problemas articulares e respiratórios, como traqueíte, pneumonia e artrites que geralmente estão associados à E.coli, Mycoplasma gallisepticum, bronquite infecciosa, entre outros (Raviv,2007). No entanto, seu principal impacto está relacionado à redução na produção de ovos e anormalidades de casca na região de ápice (EAA), afetando negativamente a lucratividade das operações avícolas. E como funciona o ciclo do MS à campo? O Mycoplasma synoviae (MS) envolve uma série de interações complexas entre o patógeno, o hospedeiro e o ambiente, resultando em uma variedade de manifestações clínicas e lesões nas aves infectadas, como visto na figura abaixo: Figura 1: Mecanismo de Patogênese do Micoplasma (Fonte: S.Umar et al, 2017). O MS é capaz de colonizar as membranas mucosas do trato respiratório na traqueia através das citoadesinas, ocasionando uma ciliostase, redução do muco, inibição da síntese protéica e de DNA, causando lesão celular. A presença do MS desencadeia uma resposta inflamatória nas áreas infectadas e através dos danos celulares alcança os capilares sanguíneos e então trato reprodutivo e articulações. (S.Umar et al, 2017). No trato reprodutivo, o Mycoplasma synoviae afeta a função celular e formação da casca do ovo na região de ápice, com adelgaçamento da camada mamilar, favorecendo a presença de trincas (Feberwee A., 2009). Esses processos contribuem para as manifestações clínicas da doença, como redução na produção de ovos e má qualidade de casca, que podem variar em gravidade dependendo da cepa do patógeno, a idade, a condição imunológica das aves e fatores ambientais. Imagem 2: Arquivo Inata Imagem 3: Feberwee A., 2009 Alguns fatores contribuem para a disseminação e permanência do agente no campo, dessa forma a compreensão da epidemiologia do MS é fundamental para o controle e prevenção eficazes da doença, e essa por sua vez está ligada à fatores como demonstrado no esquema abaixo: Distribuição Geográfica: A infecção por MS possui uma distribuição ampla. A prevalência da doença pode variar entre diferentes áreas geográficas e entre diferentes setores da indústria avícola. Fatores de Risco: A movimentação de aves entre propriedades, planteis com idades múltiplas, contato com equipamentos contaminados podem favorecer transmissão horizontal com disseminação do agente via aerossóis e demais secreções. Portadores: É importante notar que as aves infectadas com MS podem permanecer assintomáticas, servindo como portadoras do patógeno. A transmissão vertical, de aves reprodutoras para seus descendentes é possível e dessa forma a realização do monitoramento e controle nos plantéis de reprodutoras se faz importante, conforme a IN 44 (MAPA, 2001). Controle de Vetores: Moscas e ácaros podem desempenhar um papel na transmissão do MS entre aves. Portanto, medidas de controle de vetores também são importantes na prevenção da infecção.   Como diagnosticar o MS na granja? Alterações nos índices produtivos devem ser levados em consideração juntamente com diferentes métodos de diagnóstico, como testes sorológicos, testes moleculares, conforme a tabela abaixo: Quais as formas de controle do agente e da doença? O controle eficaz da infecção por Mycoplasma synoviae (MS) em aves de postura comercial requer uma abordagem abrangente que inclui medidas de biosseguridade, como controle de acesso, higienização adequada de equipamentos e instalações, controle de vetores, monitoramento contínuo para identificação dos portadores e estratégias de vacinação. Implementar um programa de vacinação estratégica contribui para o controle dos sinais cínicos e melhoria dos dados zootécnicos. Atualmente no Brasil, não se tem vacinas comerciais disponíveis para MS, no entanto tem se trabalhado com a vacina autógena para as cepas específicas isoladas na propriedade. Segue abaixo o gráfico de produção de acompanhamento a campo de uma granja da regional Sudeste:  Para desenvolvimento da vacina autógena a expertise do laboratório na caracterização das cepas presentes no plantel e diagnóstico preciso são importantes. Para garantir a eficácia das vacinas autógenas na proteção contra o MS é necessário que a aplicação seja feita anteriormente a infecção do lote e de maneira correta. Ao enfrentar os desafios apresentados pela infecção por MS, é fundamental que os produtores avícolas trabalhem em estreita colaboração com veterinários especializados em avicultura.  Entre em contato conosco. Procure nossa equipe! Autor: Fabrício Schönhals – Médico Veterinário / Consultor Técnico Comercial – Aves de Postura Referências bibliográficas: Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 44, de 23 de agosto de 2001. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 ago. 2001. Seção 1, p. 9. Catania S., Bilato D., Gobbo F., Granato A., Terregino C., Iob L., Nicholas RAJ. Treatment of eggshell abnormalities and reduced egg production caused by Mycoplasma synoviae infection. Avian Diseases 2010;54(2):961-964. Feberwee A., Wit J.J., Landman WJM. Induction of eggshell apex abnormalities by Mycoplasma synoviae: field and experimental studies. Avian Pathology 2009b;38(1):77-85. Raviv Z, Ferguson-Noel N., Laibinis V., Wooten R., Kleven S.H. Role of Mycoplasma synoviae in Commercial Layer Escherichia coli Peritonitis Syndrome. University of Georgia,2007. Umar S., Munir M.T., Uh-Rehman Z., Azam T., Subhan S., Shah M.A.A. Mycoplasmosis in poultry: update on diagnosis and preventive measures. World’s Poultry Science Journal, Vol. 73, March 2017Procure nossa equipe!

Mycoplasma gallisepticum na avicultura de postura: impactos e soluções

   Na avicultura industrial, dentre os vários agentes associados à síndrome respiratória encontrados a campo, ressalta-se o Mycoplasma gallisepticum (MG), responsável por grandes prejuízos econômicos significativos dentro do setor, relacionados à perda do desempenho zootécnico e o alto custo com tratamento do lote.   O MG tem predileção pelo trato respiratório, causando ciliostase e colonização celular no epitélio bronquial. Após ligar-se às células da mucosa através das proteínas de adesão, observa-se uma destruição ciliar inibindo a síntese proteica e de DNA, reduzindo assim a quantidade de muco produzida e desencadeando uma resposta inflamatória (Umar, S. et al.,2017). O MG, então, cai na corrente sanguínea e tem acesso aos órgãos reprodutivos, podendo infectar os ovos e ser transmitido via vertical no caso de aves reprodutoras, propagando-se para a prole. Outra importante via de transmissão, talvez a mais comum, se dá por meio do contato direto entre aves infectadas, aerossol e fômites contaminados (Yoder Júnior, 1997).   Os sinais clínicos observados vão de espirros, estertor pulmonar, secreção nasal, conjuntivite e até mesmo cabeça inchada em associação com outros agentes, como por exemplo Escherichia coli, conforme citado por Ferguson-Noel et al (2012). Dessa forma, as aves acometidas apresentam uma doença respiratória crônica (DRC), passam por uma redução do consumo de ração e consequente perda de peso, impactando na uniformidade do lote, mortalidade e na produção de ovos, gerando uma menor disponibilidade desses no mercado.    À necropsia de aves infectadas observa-se lesões de traqueíte, sinusite e aerossaculite discretas à acentuadas com formação de exsudato caseoso (Fotos 1, 2 e 3). Foto 1 – Traqueíte moderada. Fonte: acervo INATA Foto 2 – Aerossaculite torácica acentuada. Fonte: acervo INATA Foto 3 – Aerossaculite com exsudato caseoso. Fonte: acervo INATA Órgãos reprodutivos também podem ser afetados, observa-se uma regressão ovariana e queda de produção.   Os impactos econômicos são grandes, uma vez que com a queda de postura, aumento de mortalidade ocasionadas pela doença, custos adicionais com tratamento e diagnóstico, geram um grande prejuízo ao produtor. Além disso, aves que receberem o tratamento com antibióticos e estiverem em produção, terão seus ovos descartados durante o período de medicação e carência, conforme o PNCR (MAPA,2017).   Diagnosticar o Mycoplasma gallisepticum é essencial para conter sua propagação. Os métodos incluem teste de PCR, isolamento bacteriano e sorologia, através da soroaglutinação rápida (SAR), da Inibição da hemaglutinação (HI) ou ELISA. A identificação precoce permite a aplicação de medidas eficazes de controle, como ajuste do programa vacinal e até mesmo o tratamento com antibióticos do grupo dos macrolídeos, mais indicados contra esse agente. Após a confirmação de uma cepa de MG de campo na granja, deve-se implementar um programa vacinal eficiente que contemple vacinas vivas e inativadas, sendo necessário uma avaliação de caso a caso.   Embora tenhamos no mercado uma variedade de vacinas que possam ser utilizadas para o MG, investimentos em biosseguridade são fundamentais, ou seja, caso seja utilizado somente apenas uma via será ineficiente. Portanto, a desinfecção constante das instalações, cuidado no trânsito dos equipamentos dentro da granja, acompanhamento sorológico dos lotes, restrição da entrada de pessoas dentro do processo, controle de roedores e insetos, barreira sanitária com banho, troca de roupas e sapatos são essenciais.    O Mycoplasma gallisepticum representa um desafio significativo na avicultura industrial e além de medidas rigorosas de biosseguridade, o diagnóstico precoce e vacinação eficiente, contribuem para o seu controle! O Inata Biológicos tem atuado juntamente com o diagnóstico e o desenvolvimento de vacinas autógenas para MG, garantindo assim uma resposta eficiente e a longo prazo! Entre em contato conosco! Autor: Guilherme Baldissera – Médico Veterinário / Consultor Técnico Comercial – Aves de Postura Referências bibliográficas: Ferguson-Noel, N., Victoria, A.L. and Farrar, M. 2012. Influence of swabmaterial on the detection of Mycoplasma gallisepticum and Mycoplasma synoviae by real-time PCR. Avian Diseases 56: 310- 314. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento [MAPA]. 2017. Instrução Normativa nº 09, de 21 de fevereiro de 2017. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 08 mar 2017Umar, S. et al. 2017. Mycoplasmosis in poultry: update on diagnosis and preventive measures. World’s Poultry Science Journal, Vol. 73. Yoder Júnior, H.W. 1997. Mycoplasmosis. In: Calnek, B.W.; Barnes, H.J.; Beard, C.W.; Reid, W.M.; Yoder Júnior, H.W. Diseases of poultry. Ames: Iowa State University Press, 1997. p.197-235.

Doença infecciosa da Bursa de Fabricius: Vacinas de Imuno-complexo como forma de prevenção e controle

A ocorrência de doenças causadas por agentes imunossupressores na avicultura mundial, exerce um efeito devastador em índices zootécnicos apresentados pelos lotes de aves comerciais em seus vários sistemas de produção. Devido ao seu modo de criação com altas densidades, a presença desses agentes no ambiente estão cada vez mais frequentes na cadeia avícola e com isso problemas econômicos se tornam mais evidentes. Dentre os agentes infecciosos imunossupressoras das aves, como Vírus de Marek, Reovírus, Leucose Linfoide, Virus da anemia infecciosa das galinhas (CAV), Aviadenovírus, Astrovírus, a Doença Infecciosa da Bursa (DIB) causada pelo vírus de Gumboro é um dos agentes que mais causam impactos econômicos na indústria avícola. Isso decorre do fato da DIB atingir diretamente um importante órgão linfoide primário a bursa de Fabrícius, com isso possui como característica comprometer significativamente a resposta imunológica mediada pelos linfócitos B, por meio da produção de anticorpos. Com esse processo de infecção as aves afetadas com o vírus de Gumboro respondem de forma deficitária a procedimentos de vacinações, e ficam mais suscetíveis a doenças, devido ao déficit de produção de anticorpos específicos pós procedimentos de imunização. Isso leva a prejuízos econômicos significativos para o sistema de criação, como quadros de refugagem e desuniformidade, elevação da mortalidade e aumento de condenações no abatedouro devido a coinfecções com outros agentes infecciosos, como por exemplo a Escherichia coli. Portanto uma das medidas mais eficiente dentre as estratégias de controle da enfermidade é a vacinação. Quando analisamos processos de imunização de matrizes, os anticorpos maternais possuem um papel muito importante na proteção dos pintinhos nos primeiros dias, mas em determinada etapa de sua criação esses anticorpos chegam a níveis mínimos, assim deixando as aves susceptíveis a desafios clínicos. Por outro lado, os anticorpos maternais exercem efeito neutralizante sobre a cepa vacinal, limitando a eficácia das vacinas vivas convencionais em planteis de frangos de corte nos primeiros dias de vida. Em decorrência dessas características, novas tecnologias vêm sendo implantadas na avicultura, como por exemplo os procedimentos de vacinação in ovo, com utilização de vacinas imuno-complexo (antígeno-anticorpo) e vacinas recombinantes para o controle da doença de Gumboro. Com essas novas ferramentas as vacinações com cepas vivas convencionais, estão sendo utilizadas apenas para casos extremamente específicos, em que é necessária dose de reforço. A tecnologia da vacina do tipo Imuno-complexo, produzida pela mixagem, em proporções bem definidas, da estirpe vacinal com anticorpos específicos contra a doença de Gumboro produzidos em aves livres de patógenos específicos (SPF). O processo de imunização com a utilização dessas novas tecnologias, podem ser realizados no incubatório via in ovo ou de forma subcutânea, facilitando os procedimentos de manejo e trazendo uma proteção maior a lotes de frangos de corte. Mas qual a forma de atuação das vacinas do tipo Imuno-complexo? Após a aplicação da vacina in ovo, a mesma é absorvida pelo embrião através do líquido amniótico, onde após esse procedimento, a vacina é carreada pelos macrófagos através do sistema circulatório. Após a chegada da vacina nos órgãos linfoides, o procedimento de reconhecimento imunológico se faz por meio dos macrófagos, que internalizam o complexo antígeno anticorpo, levando a uma multiplicação contínua; e as células dendríticas, que aderem ao complexo antígeno anticorpo, por meio de uma ligação iônica, conforme citado na literatura. Assim que a imunidade materna das aves começar a cair, o vírus vacinal emerge dos macrófagos e devido a ligação anteriormente citada em células dendríticas, o vírus vacinal se torna livre, onde o mesmo realiza a colonização da bursa de Fabricius. Esse tipo de vacina acaba disponibilizando, para cada ave, uma vacinação de maneira específica, à medida que a imunidade materna cai, a vacina complexo imune vai gerando resposta, uma vez que a transferência passiva de anticorpos maternais também é individualizada. Isso proporciona uma menor vulnerabilidade em comparação com as vacinas convencionais. Outro aspecto importante dentro das vantagens das vacinas de Imuno-complexo é o fato de a imunidade ser induzida por um vírus vivo. Dessa forma, além da vacina imunizar a ave, ela também “imuniza o ambiente” e produz um efeito conhecido como “esfriamento do galpão”, após a vacinação de sucessivos lotes, conforme citado na literatura. Este efeito somente é possível em vacinas com vírus vivo, pois o vírus de campo vai sendo substituído pela cepa vacinal. O controle efetivo das doenças imunossupressoras, como a doença de Gumboro, envolve o uso inteligente da imunidade materna nas primeiras semanas de vida da ave e a eficaz e adequada imunização ativa para uma proteção completa do lote. A prevenção da doença de Gumboro é passo importante para a preservação da integridade imune, com o objetivo de evitar imunossupressão, mortalidade e prejuízos econômicos em aves comerciais. As vacinas de Imuno-complexo representam um grande avanço na prevenção da doença de Gumboro, já que aliam praticidade, segurança e eficácia. A INATA traz como solução para doença de Gumboro a vacina oleosa inativada MATRIVAC 7, vacina a qual pode ser utilizada em matrizes leves e pesadas e que possui em sua composição duas cepas para a prevenção da doença, a cepa Winterfield 2512 e a cepa nacional G15, sendo que essa última possui uma maior prevalência nos planteis avícolas brasileiros (foto 1 e 2). Outro produto que a INATA traz como alternativa para controle da doença é a vacina viva IMUPLEX, vacina de imuno-complexo para imunização de matrizes e frangos de corte, sendo utilizada no incubatório com forma de aplicação in ovo e por via subcutânea. INATA proteção na medida certa!   Foto 1: Prevalência de cepas isoladas de Gumboro no Brasil. Foto 2: Frequência das cepas isoladas nas infecções de campo de Gumboro.   Autor: Cesar Junior Poletto – Médico Veterinário / Assistente técnico Comercial – INATA Biológicos. Referências bibliográficas: Balaguer, JL (2012). 1st Biological Scientific Forum – Poultry,19-21 June 2012 – Budapest, Humgary Baxendale, W. and D. Lutticken. 1981. The results of field trials with an inactivated Gumboro vaccine. Dev Biol Stand 51:211–219 Bygrave, A. C. and J. T. Faragher. 1970. Mortality associated and Gumboro disease. Vet Rec 86:758–759. Muniz, E., Salles, G. 2020. Importância das

Escherichia coli: um agente oportunista?

Escherichia coli é uma bactéria pertencente à família Enterobacteriaceae, com formatode bastonete, gram negativa, não esporulada e anaeróbica facultativa. Tipicamente colonizatrato intestinal de várias espécies, incluindo humanos, mamíferos e aves. Porém, ao se falar daE.coli patogênica de aves (APEC), diversas lesões extraintestinais que incluem aerossaculites,pericardites, perihepatites, onfalites, celulites, sinovites e síndrome da cabeça inchada podemestar diretamente associadas a essa bactéria. Uma das principais causas de mortalidade em plantéis avícolas é a colibacilose (acimade 20% em alguns casos). Em aves de postura há relatos de até 36% de prevalência desse tipode infecção em alguns lotes, o que leva muitas vezes às lesões extraintestinais já citadas aqui.Sob o ponto de vista do impacto no desempenho zootécnico das aves, essa doença pode afetarnegativamente a conversão alimentar (em torno de 2,7%) e a produção de ovos (quedas de até20%). Mais especificamente no Brasil, considerando apenas condenações em abatedouros, sãoestimados prejuízos anuais em torno dos 10 milhões de reais causados pela E.coli APEC. Essa bactéria pode atuar como agente oportunista em casos de infecções por outrosagentes que causam lesões no trato respiratório superior (vírus da Bronquite, Mycoplasmagallisepticum). Estas infecções primárias contribuem para o desenvolvimento da colibacilose nasaves através da diminuição da ação das barreiras das vias respiratórias superiores, bem como aexposição à poeira e amônia. No entanto, é importante ressaltar que, em vários experimentos,as cepas virulentas da E.coli APEC foram o único agente etiológico envolvido, participando,portanto, como agente primário. Capacidade de adesão, invasão, produção de toxina, sobrevivência e aquisição de ferrosão fatores ligados à patogenicidade das cepas de E.coli APEC. Existem relatos de mais de 40fatores associados à colonização do hospedeiro (adesinas/invasinas), à sobrevivência noambiente extraintestinal (sistemas de captação de ferro) e ao escape das defesas do hospedeiro(celular e humoral). Além disso, a capacidade de evolução de E.coli por transferência horizontalde genes entre cepas auxilia a adaptação em novos ambientes e contribui também para acapacidade de aquisição dos fatores de virulência citados acima. O tempo entre infecção e início dos sinais clínicos é variável, geralmente de 1 a 7 dias,de acordo com a virulência e a quantidade do agente presente. Morbidade e mortalidadetambém variam bastante pelos mesmos motivos. Como medidas de prevenção e controle, a associação entre medidas inespecíficas demanejo (devido aos aspectos multifatoriais que podem desencadear a doença como ambiência,nutrição e procedimentos operacionais) e a utilização de vacinas específicas (autógenas) podemauxiliar a minimizar os danos causados por essa doença. Portanto, a E.coli é responsável por grandes prejuízos econômicos na aviculturaindustrial, uma vez que impacta tanto em mortalidade quanto em desempenho das aves, alémdo custo com profilaxia e tratamentos. A estratégia a ser adotada para controle da doença écrucial para a viabilidade da atividade avícola.   Por: Victor Minoru – médico veterinário

Coriza: um agente reincidente na avicultura

Nos últimos anos, o setor de avicultura de postura comercial, passou por um aumento de quadros respiratórios superiores, onde as aves apresentavam sintomas iniciais de secreção nasal e até quadros mais severos com presença de cabeça inchada, sugestivos de Coriza Infecciosa.  Prevalência essa que pode ser confirmada ao verificarmos a os dados laboratoriais de isolamentos de Avibacterium paragallinarum entre os anos de 2019 a 2022.    A coriza é uma enfermidade causada pelo Avibacterium paragallinarum, bactéria Gram negativa, classificada em Sorogruprupos A, B e C que acomete aves em todas as fases, no entanto é mais comum de ser observada na fase de Recria – 07 a 10 semanas de idade e em Produção- 22 a 32 semanas de idade.   O local de replicação do agente fica restrito a região da cabeça no seio Infaorbitário e dessa forma observamos sinais clínicos de trato respiratório superior, como secreção nasal, conjuntivite, inchaço unilateral ou bilateral da cabeça, conforme as fotos abaixo:    Geralmente os sinais clínicos iniciais são discretos, o que dificulta a percepção pelo responsável do galpão e quando são observados, as aves já estão apresentando um quadro clínico crônico. Observa-se aves com inchaço severo da cabeça, prostração, perda de apetite, desuniformidade do lote, queda na produção de ovos de até 40%, mortalidade das aves que estão mais acometidas, acarretando grande prejuízo econômico. De acordo com o observado a campo, o curso da doença fica em torno de 08 semanas de duração, em que nas duas primeiras semanas tem se uma queda de produção e mortalidade expressiva, e nas semanas seguintes o quadro clínico vai sendo controlado.   A transmissão é horizontal e ocorre por contato direto entre as aves, aerossóis, equipamentos, alimentos e água contaminada. Em sistemas de criação onde tem-se bebedouros pendulares ou “bica corrida” essa contaminação acontece de forma mais rápida, uma vez que todas as aves têm a acesso a mesma fonte de água. Nesse caso, o manejo é muito importante para o controle da morbidade (aves doentes) que é alta, apesar de baixa mortalidade.  Esse tipo de quadro clínico respiratório pode estar associado a outros patógenos como Mycoplasma gallisepticum, Mycoplasma synoviae, Escherichia coli, Gallibacterium anatis, Pasteurella multocida, Bronquite Infecciosa e Pneumovírus aviário (Sarika et al, 2019). Dessa forma o diagnóstico laboratorial é de grande importância para estabelecer as formas de controle, tratamento e prevenção da doença   À necropsia detalhada das aves com sinais clínicos é de grande importância para o direcionamento das análises laboratoriais. Em aves com quadro de Coriza Infecciosa observa-se lesões macroscópicas de sinusite com presença de massa caseosa no seio infraorbitário, conforme as fotos abaixo:    A coleta de material para laboratório deve ser realizada em aves que apresentem sinais clínicos em estágios iniciais a moderados e que não tenham recebido nenhuma antibioticoterapia. O diagnóstico de Coriza se baseia na análise bacteriológica ou na detecção molecular do agente (PCR), conforme a tabela abaixo:    A bacteriologia geralmente é a mais utilizada pois além de favorecer o isolamento do agente, também contribui para execução do antibiograma e definição de qual a melhor base terapêutica a ser utilizada. Em lotes positivos com alta morbidade recomenda-se a utilização de antimicrobianos via água, ração ou injetável, conforme recomendação do médico veterinário.  Em casos em que seja observadas poucas aves com sintomatologia, recomenda-se fazer a separação e aplicação de antibiótico injetável em aves menos acometidas e eliminação das aves com sintomas severos, a fim de controlar a disseminação da doença.   Por que em algumas propriedades é tão difícil de controlar os quadros de Coriza?  A resposta dessa pergunta está na baixa proteção cruzada que esses agentes têm entre si!  Algumas características da Avibacterium paragallinarum contribuem para a dificuldade de controle da doença mesmo em aves vacinadas com duas doses de vacinas comerciais. Essa particularidade se dá devido à sua composição de membrana que contém as hemaglutininas que lhe conferem uma diferenciação por sorogrupos e não somente por composição genética. A hemaglutinina é o principal componente que confere a patogenicidade e imunogenicidade da Avibacterium paragallinarum (Yamaguchi et al., 1993).  Essa variação antigênica entre a Avibacterium paragallinarum foi classificada em 03 sorogrupos diferentes: A, B e C (Page, L. A, 1962) e nove sorotipos (Blackall et al., 1990).  Os sorogrupos possuem uma baixa proteção cruzada entre si e esse é o motivo de termos lotes vacinados que apresentem problemas clínicos de Coriza. Essa afirmativa foi mais bem descrita por Soriano et al,2004, onde aves foram vacinadas e desafiadas com os Sorogrupos específicos de Coriza. Assim aves vacinadas com Coriza Cepa A1 foram desafiadas com a cepa A1 e avaliada a proteção; aves vacinadas com A1 foram desafiadas com Coriza cepa A2 e assim por seguinte, conforme tabela abaixo:  Dessa forma, observa-se que onde as aves foram vacinadas e desafiadas com cepas semelhantes ou próximas a proteção foi considerada adequada, de 70% a 100% (marcação em Azul). Sendo assim para uma proteção adequada para Coriza Infecciosa é de grande importância que seja utilizada a cepa local na imunização das aves.   Como controlar?  O controle da Coriza Infecciosa é realizado com vacinas autógenas, comerciais e as medidas de biosseguridade!      Em propriedades que possuem o histórico do problema são utilizadas duas a três doses de vacina para coriza, contabilizando as vacinas autógenas e a vacina comercial. O isolamento bacteriano utilizado no diagnóstico possibilita a geração da cepa local de Coriza Infecciosa e produção da vacina específica para a propriedade que é a vacina autógena!  Os programas vacinais devem ser configurados conforme a necessidade de cada propriedade, pois a vacinação deve ser realizada antes da idade em que o problema começa. Outro ponto importante no controle da enfermidade é a escolha de qual vacina inicial será utilizada, vacina com adjuvante oleoso que garante uma resposta prolongada ou uma vacina gel onde a proteção é imediata.  A avaliação de cada caso clínico é extremamente importante, aliado ao diagnostico bem realizado para traçar as estratégias de controle da Coriza Infecciosa!  Referências: Blackall PJ, Eaves LE, Rogers DG. (1990): Proposal of a new serovar and altered nomenclature for