Lactococose na Tilapicultura
Lactococose é uma enfermidade emergente ocasionada por bactérias Gram-positivas do gênero Lactococcus que está relacionada a expressivos surtos de mortalidade ocasionados sobretudo no terço final do ciclo de criação, evidenciados em condições de temperaturas altas, bem como baixas, ao longo de diversas regiões do país. Caracterização da doença Os primeiros casos da doença foram evidenciados na região Nordeste do Brasil a partir de 2020 e atualmente são conhecidos dois agentes etiológicos, que por sua vez possuem pouca distinção fenotípica e genética, sendo o Lactococcus garvieae e Lactococcus petauri. Ao longo de dois anos, estes patógenos exibiram uma característica de ampla capacidade de disseminação, já que em 2022 a enfermidade foi diagnosticada na região Centro Oeste e em pouco tempo se estendeu pelo Sudeste e Sul do país, com exceção do Oeste do Paraná e região central de Minas Gerais. A principal forma de transmissão ainda não foi elucidada com base científica, no entanto por meio do acompanhamento e gerenciamento sanitário de diversas fazendas, foi possível presumir que a introdução da enfermidade do Nordeste para as demais regiões do país foi realizada por intermédio de veículos que transportavam peixes para consumo. Apesar disso, atualmente o comércio de formas jovens entre pisciculturas é considerado mais relevante. Patogenia A patogenia da lactococose possui aspectos similares à estreptococose, sendo que as bactérias possuem a mesma característica de predileção pelo sistema nervoso central e causam meningoencefalite e septicemia. Em decorrência do avanço da infecção, é comum observarmos alterações oculares, como opacidade e exoftalmia, bem como natação errática e necrose branquial. Na necrópsia, é possível constatar esplenomegalia, pericardite, assim como alterações nas diferentes porções do rim e fígado. Fatores de risco Um dos principais fatores de risco para a emergência de surtos é a temperatura. O Lactococcus pode causar surtos de mortalidade bastante expressivos em ocasiões com temperatura ambiente abaixo de 24 e acima de 28 graus Celsius, o que indica ser caracterizada como uma enfermidade oportunista, visto que os peixes tendem a sofrer imunossupressão quando mantidos em ambientes frios ou muito quentes. Esta particularidade pode se tornar importante para tomadas de decisões em casos de surtos, onde mesmo na ausência do diagnóstico laboratorial, se faz necessário a realização das intervenções de forma urgente, sendo possível portanto promover uma triagem do diagnóstico diferencial por Streptococcus agalactiae, tendo em vista que não existem evidências deste agente ocasionando surtos com temperatura da água abaixo de 24 graus. Em adição, outras enfermidades podem promover a infecção por Lactococcus, sobretudo bacterioses que acometem os órgãos hematopoiéticos como a franciselose e edwardsielose, bem como infecção viral causada por ISKNV, que por sua vez favorece a depressão do sistema imunológico. Diagnóstico O diagnóstico da lactococose deve ser confirmado por meio de análises laboratoriais, tendo em vista que os sinais clínicos observados a campo são muito similares aos casos de estreptococoses. Dessa forma, amostras de animais clínicos moribundos devem ser acondicionados em sacos plásticos, refrigerados e enviados ao laboratório. Técnicas de microbiologia, combinadas com testes bioquímicos e análises moleculares são essenciais para obter um diagnóstico preciso. Tratamento O tratamento da lactococose pode ser realizado por meio da oferta de antibióticos via oral, que são incorporados à ração, no entanto trata-se de um processo desafiador para a realidade das pisciculturas, tendo em vista que os surtos ocorrem frequentemente em lotes que se encontram em fase de terminação. Em virtude da grande biomassa, o processo de incorporação e o alto volume de antimicrobianos necessário para a intervenção terapêutica, torna o processo oneroso e em alguns casos, inviável financeiramente. Adicionalmente, resultados de antibiogramas realizados com amostras de regiões distintas demonstram que esta bactéria possui um perfil de ampla resistência aos antibióticos legalizados para utilização em aquacultura. Prevenção Tendo em vista a ineficiência do tratamento, a melhor forma de controle da enfermidade é a prevenção por meio de vacinas. Embora ainda não esteja disponível uma vacina de linha no mercado, é possível realizar a imunização dos plantéis por meio das vacinas autógenas, que por sua vez se tornaram ferramentas indispensáveis em propriedades positivas para a doença. As vacinas personalizadas demandam isolamento prévio do agente etiológico e licença do MAPA para que possam ser produzidas nos laboratórios certificados. Autor: Roney Nogueira | Consultor Técnico de Peixes – INATA Biológicos.