Saúde Animal

Controle de Pragas na Produção Avícola: Desafios e Estratégias

A relação produção e biosseguridade são fatores importantes para que o produtor mantenha seu plantel longe de desafios sanitários e obtenha melhores índices econômicos. As medidas de biosseguridade vão desde o isolamento da propriedade, controle do tráfego de pessoas e veículos, programa de vacinação, e controle de pragas. Essas medidas contribuem para diminuir os riscos sanitários fomentado pelo adensamento das aves e diminuição no tempo de intervalo entre os lotes. O controle de pragas é um ponto-chave na produção avícola e deve ser seguido de forma rigorosa, conforme a IN56/2007/MAPA, capítulo III – Art.21° VII, pois os roedores são refratários para muitas doenças e podem levar patógenos aos aviários. Atualmente é um dos principais aspectos da biosseguridade, onde o produtor adota medidas de manejo com objetivo de evitar ou mitigar os riscos de desafios sanitários em seu plantel, transmitidos também em alta infestação de pragas como roedores, cascudinhos e moscas, entre outras.  As pragas podem se tornar uns dos piores gargalos na avicultura. Os roedores têm como característica consumir alimentos que são bastante atrativos ao seu olfato. Portanto, acabam espalhando e contaminando a ração.  Fonte: Paulo Prudente Foto 1: Infestação por roedores, espécie – Rattus rattus. Da mesma forma, moscas e cascudinhos também representam pragas que prejudicam a sanidade e bem-estar do lote. Um ponto crucial é que grande parte dessas pragas servem como vetores de doenças prejudiciais ao plantel, como salmonela, coriza, E. coli, bouba e por isso devem ser controladas. Controle de Roedores Os roedores, como ratos e camundongos, são animais sinantrópicos altamente capazes de sobreviver e proliferar na natureza. Alguns estudos afirmam que cerca de um quinto da produção mundial é perdido devido aos danos causados por roedores. Na produção avícola, os ratos e camundongos têm como característica consumir, espalhar e contaminar até 20% das rações. Além dos danos às rações, esses animais também causam outros prejuízos, como danos a cortinas, contaminação da água e roedura de fios, entre outros. No entanto, o ponto mais preocupante é a contaminação de alimentos e água pela urina e fezes dos roedores, que também são vetores de doenças como salmonella spp e coriza infecciosa (BERCHIERI JUNIOR, 2009). Existem dois principais gêneros de roedores: Mus e Rattus, que se ramificam em três espécies de roedores sinantrópicos: Mus musculus, Rattus norvegicus e Rattus rattus, correspondendo ao camundongo, à ratazana e ao rato de telhado, respectivamente. Rattus novergicus (ratazana): popularmente conhecido como rato de esgoto, possui um corpo robusto e orelhas pequenas. Suas fezes têm formato de cápsula. Seu habitat natural são as galerias e tocas no solo, próximas a rios, córregos e lixões. É um nadador e escavador habilidoso, com uma área de atuação que se estende a até 50 metros ao redor de sua toca.” Foto 2: Ratazana no canto inferior direito e rato de telhado no canto superior. Fonte: Alisson Mezalira Foto 3: Tocas de ratazanas. Fonte: Paulo Prudente Mus musculus (camundongo): popularmente conhecido como catita, possui um corpo pequeno e esguio, apresenta orelha grandes em relação ao tamanho. Costuma habitar o interior de móveis e armários e é um excelente escalador. Sua área de atuação é um pouco menor em relação à ratazana, variando de cerca de 2 a 5 metros de distância de sua toca. O que o diferencia das outras espécies é sua alta curiosidade, enquanto a ratazana e o rato de telhado são mais receosos. Foto 4: Camundongo em galpão. Fonte: Alisson Mezalira Rattus rattus (rato de telhado): conhecido como rato preto, apresenta um corpo esguio e uma cauda longa, orelhas grandes e sem pelos. Seu habitat é em forros, tetos e silos, bem como em árvores e coqueiros. É comum encontrá-lo no interior de residências. É um excelente escalador e não tem o costume de fazer tocas. Seu perímetro de atuação é de cerca de 60 metros. Deixa rastros de gordura, pelos e fezes por onde costuma passar. Foto 5 e 6: Rato de telhado em estruturas metálicas nos galpões de produção Fonte: Paulo Prudente O controle integrado de roedores requer atenção e conhecimento dos hábitos específicos de cada espécie, bem como dos sinais de sua presença no ambiente. Portanto, é essencial garantir precisão no controle integrado de roedores. Um programa altamente eficiente é composto por três pilares: Prevenção; Monitoramento; Controle. A desratização é realizada por meio de agentes químicos, tais como granulados, iscas parafinadas, pó de contato, iscas frescas, entre outros, os quais são colocados em porta-isca de PVC. É importante lembrar que os roedores são altamente higiênicos e, portanto, têm o costume de marcar o ambiente com urina e fezes. Por isso, as portas-isca devem ser mantidas sempre limpas e as iscas precisam ficar suspensas para que não entrem em contato com a base da porta-isca. O monitoramento deve ser realizado por meio de planilhas que contêm indicadores como trilhas, roeduras, fezes, ninhos e tocas, além de registros de avistamento de ratos no ambiente. Controle de Cascudinhos Os alphitobius diaperinus (cascudinho) é um dos principais hospedeiros e vetores de patógenos na avicultura. Entre alguns desses agentes causadores de enfermidades, podemos destacar Escherichia coli, Salmonella spp., Marek e Gumboro (ANDREATTI FILHO et al, 2020). Dessa forma, são encarregados por problemas de forma direta e indireta na produção avícola. O cascudinho tem um ciclo de desenvolvimento que varia entre 45 e 90 dias, dividido em quatro fases: ovo, larva, pupa e adulto. A melhor época para sua reprodução é no verão, quando atinge as condições ideais de multiplicação, dessa forma nesse período o controle deve ser mais intenso com utilização de piretroídes. As fêmeas de Alphitobius diaperinus podem depositar até 2.000 ovos durante seu ciclo de vida, e os adultos podem viver até 400 dias. O cascudinho possui hábitos noturnos e durante o dia tende a se abrigar em frestas das camas, colunas, paredes ou sob equipamentos, principalmente os comedouros. A aplicação do inseticida deve ser realizada nesses locais, durante o intervalo entre os lotes. Foto 7 e 8: Cascudinho adulto e em fase de larva sobre cama enlonada no aviário. Fonte: Guilherme Baldissera

Salmonelose em Bezerros Leiteiros

Introdução As doenças entéricas e respiratórias são os maiores desafios sanitários nos bezerreiros das propriedades leiteiras e impactam direta e negativamente na rentabilidade da atividade. Por exemplo, pode-se citar o alto custo com tratamentos, visto que são doenças de alta morbidade que comprometem a produtividade futura dos animais afetados. Além disso, os tratamentos podem apresentar baixa efetividade, já que algumas cepas bacterianas são multirresistentes aos antibióticos utilizados, aumentando as taxas de mortalidade e de descarte de animais. Dentre as causas de mortalidade em bezerros leiteiros, destaca-se a salmonelose. Salmonella enterica sorovar Dublin é uma bactéria Gram-negativa cosmopolita de grande importância para humanos como zoonose e para bovinos devido a sua alta capacidade invasiva e patogênica. Os quadros clínicos causados por esta bactéria apresentam uma severidade considerável, visto que muitos podem evoluir a óbito e os animais que permanecem vivos perdem desempenho, principalmente nas fases de cria e recria.  Transmissão A principal via de transmissão é a fecal-oral, isto é, a infecção ocorre quando animais susceptíveis ingerem a bactéria, que foi disseminada no ambiente pelos animais infectados através de suas fezes e secreções corporais (saliva, colostro e leite).  A Salmonella invade e se multiplica nos enterócitos e, ao cair na circulação sanguínea, é transportada para outros órgãos tais como fígado, pulmão, baço e linfonodos, podendo causar septicemia. Os animais portadores, sendo que alguns podem ser assintomáticos, fazem com que a disseminação seja contínua, dificultando o controle da doença. Aves silvestres e roedores também contribuem para a disseminação dessa bactéria no ambiente. Também há relatos de transmissão intrauterina da Salmonella da vaca portadora para o feto durante a gestação. O fornecimento do leite de descarte não pasteurizado para alimentação das bezerras lactantes pode conter a Salmonella e assim servir como fonte de infecção para esta categoria animal. Fonte: Velasquez-Munoz et al. (2024) Sinais clínicos A salmonelose é uma doença que geralmente ocorre na forma de surtos. A severidade dos quadros clínicos causados pela Salmonella Dublin é maior em relação aos demais sorovares de Salmonella devido à sua capacidade invasiva. Bovinos de todas as idades podem ser acometidos, no entanto os casos são mais comuns entre 2 e 12 semanas de vida, e se apresentam com sinais respiratórios, possuem difícil tratamento e prognóstico desfavorável. Dentre os sinais demonstrados pelos animais doentes, tem-se: Febre; Depressão; Anorexia; Pneumonia; Tosse; Aumento da frequência respiratória; Diarreia; Desidratação; Septicemia; Uma variação dos sinais clínicos pode ocorrer em função da dose infectante, virulência da cepa, idade e status imunológico do animal acometido. Fatores estressantes tais como transporte, superlotação, subnutrição, uso de antibióticos, imunossupressão e outras doenças concomitantes podem alterar a microbiota intestinal e favorecer a proliferação da Salmonella no intestino. Diagnóstico É de suma importância a realização do diagnóstico da salmonelose, já que a os sinais clínicos dessa doença se confundem com os de outras doenças comuns que acometem bovinos, como pneumonia e tristeza parasitaria. A anamnese e o histórico dos sinais clínicos observados nos animais doentes associados ao diagnóstico laboratorial são imprescindíveis para confirmar a suspeita da salmonelose. Em alguns casos é possível fazer a identificação e o isolamento da Salmonella Dublin a partir das fezes dos animais doentes. Nos animais que evoluem à óbito, recomenda-se a coleta de órgãos como fígado, vesícula biliar, pulmão, linfonodos mesentéricos para cultura microbiológica e exame histopatológico, para auxiliar na confirmação da doença. Para manter a Salmonella viável no material de necropsia, utiliza-se o caldo Rappaport como meio de transporte. Tratamento e prevenção O controle e a erradicação da Salmonella Dublin nos rebanhos leiteiros são dificultados pelo fato de alguns animais clinicamente saudáveis serem portadores desta bactéria e a disseminarem no ambiente, favorecendo a contaminação de mais animais saudáveis. O tratamento da salmonelose baseia-se na terapia de suporte (controle da febre, hidratação e inflamação) e no combate à bactéria no organismo por meio do uso de antimicrobianos. Ao diagnosticar a Salmonella Dublin, é importante realizar o teste de sensibilidade aos antimicrobianos como exame complementar a fim de selecionar a melhor base para que o tratamento seja efetivo e que o animal se recupere. Vale ressaltar que a efetividade do tratamento depende do estágio da doença, quanto mais avançado mais difícil se torna a reversão do quadro clínico.   A adoção de medidas de biosseguridade, tais como fornecimento de colostro em quantidade e qualidade adequados, desinfecção e limpeza das instalações, isolamento e tratamento dos animais doentes, eliminação das possíveis fontes de infecção (exemplo: controle de roedores e aves no sistema de produção leiteiro), entre outras podem minimizar a ocorrência desta doença. E em caso de surto de salmonelose, o que fazer? 1º passo: Diagnóstico – É essencial entendermos quem é o agente patogênico causador dos quadros de doença na fazenda, a fim de direcionar o tratamento mais eficaz e tentar combater a causa do problema; 2º passo: Levantamento epidemiológico – Buscar informações sobre os casos, taxas de morbidade, mortalidade e letalidade, faixa etária acometida, evolução da doença, entre outros. 3º passo: Plano de ação – Com o diagnóstico e o histórico do problema em mãos é possível traçar estratégias para mitigar novos casos, tratar efetivamente os animais doentes, reduzir a pressão de infecção e as possíveis fontes de transmissão da Salmonella na propriedade leiteira; 4º passo: Avaliação dos resultados e monitoramento epidemiológico contínuo. A utilização das vacinas autógenas para prevenção da salmonelose tem se mostrado uma ferramenta efetiva para minimizar os prejuízos causados por esta doença. O diferencial das vacinas autógenas quando comparadas às vacinas comerciais de linha disponíveis no mercado é a fração antigênica, a qual é composta pela cepa de Salmonella Dublin que foi isolada a partir de material biológico coletado de animais doentes em uma determinada propriedade leiteira. Em outras palavras, a cepa causadora da doença é a mesma que irá compor a vacina autógena, gerando um produto personalizado que induz uma resposta imune mais específica contra a Salmonella Dublin. Nas fazendas leiteiras monitoradas pelos consultores técnico-comerciais da Inata Biológicos observa-se uma redução na pressão de infecção causada pela Salmonella com a utilização da vacina, além da redução na

Mycoplasma Synoviae: a perda invisível de produção

A avicultura desempenha um papel vital na produção de alimentos em todo o mundo, fornecendo proteína de alta qualidade na forma de carne e ovos. No entanto, alguns agentes podem impactar a saúde e a produtividade das aves, como ocorre na infecção por Mycoplasma synoviae (MS), uma bactéria patogênica, presente principalmente em aves de postura comercial, mas que acomete também perus e faisões. O MS é reconhecido por problemas articulares e respiratórios, como traqueíte, pneumonia e artrites que geralmente estão associados à E.coli, Mycoplasma gallisepticum, bronquite infecciosa, entre outros (Raviv,2007). No entanto, seu principal impacto está relacionado à redução na produção de ovos e anormalidades de casca na região de ápice (EAA), afetando negativamente a lucratividade das operações avícolas. E como funciona o ciclo do MS à campo? O Mycoplasma synoviae (MS) envolve uma série de interações complexas entre o patógeno, o hospedeiro e o ambiente, resultando em uma variedade de manifestações clínicas e lesões nas aves infectadas, como visto na figura abaixo: Figura 1: Mecanismo de Patogênese do Micoplasma (Fonte: S.Umar et al, 2017). O MS é capaz de colonizar as membranas mucosas do trato respiratório na traqueia através das citoadesinas, ocasionando uma ciliostase, redução do muco, inibição da síntese protéica e de DNA, causando lesão celular. A presença do MS desencadeia uma resposta inflamatória nas áreas infectadas e através dos danos celulares alcança os capilares sanguíneos e então trato reprodutivo e articulações. (S.Umar et al, 2017). No trato reprodutivo, o Mycoplasma synoviae afeta a função celular e formação da casca do ovo na região de ápice, com adelgaçamento da camada mamilar, favorecendo a presença de trincas (Feberwee A., 2009). Esses processos contribuem para as manifestações clínicas da doença, como redução na produção de ovos e má qualidade de casca, que podem variar em gravidade dependendo da cepa do patógeno, a idade, a condição imunológica das aves e fatores ambientais. Imagem 2: Arquivo Inata Imagem 3: Feberwee A., 2009 Alguns fatores contribuem para a disseminação e permanência do agente no campo, dessa forma a compreensão da epidemiologia do MS é fundamental para o controle e prevenção eficazes da doença, e essa por sua vez está ligada à fatores como demonstrado no esquema abaixo: Distribuição Geográfica: A infecção por MS possui uma distribuição ampla. A prevalência da doença pode variar entre diferentes áreas geográficas e entre diferentes setores da indústria avícola. Fatores de Risco: A movimentação de aves entre propriedades, planteis com idades múltiplas, contato com equipamentos contaminados podem favorecer transmissão horizontal com disseminação do agente via aerossóis e demais secreções. Portadores: É importante notar que as aves infectadas com MS podem permanecer assintomáticas, servindo como portadoras do patógeno. A transmissão vertical, de aves reprodutoras para seus descendentes é possível e dessa forma a realização do monitoramento e controle nos plantéis de reprodutoras se faz importante, conforme a IN 44 (MAPA, 2001). Controle de Vetores: Moscas e ácaros podem desempenhar um papel na transmissão do MS entre aves. Portanto, medidas de controle de vetores também são importantes na prevenção da infecção.   Como diagnosticar o MS na granja? Alterações nos índices produtivos devem ser levados em consideração juntamente com diferentes métodos de diagnóstico, como testes sorológicos, testes moleculares, conforme a tabela abaixo: Quais as formas de controle do agente e da doença? O controle eficaz da infecção por Mycoplasma synoviae (MS) em aves de postura comercial requer uma abordagem abrangente que inclui medidas de biosseguridade, como controle de acesso, higienização adequada de equipamentos e instalações, controle de vetores, monitoramento contínuo para identificação dos portadores e estratégias de vacinação. Implementar um programa de vacinação estratégica contribui para o controle dos sinais cínicos e melhoria dos dados zootécnicos. Atualmente no Brasil, não se tem vacinas comerciais disponíveis para MS, no entanto tem se trabalhado com a vacina autógena para as cepas específicas isoladas na propriedade. Segue abaixo o gráfico de produção de acompanhamento a campo de uma granja da regional Sudeste:  Para desenvolvimento da vacina autógena a expertise do laboratório na caracterização das cepas presentes no plantel e diagnóstico preciso são importantes. Para garantir a eficácia das vacinas autógenas na proteção contra o MS é necessário que a aplicação seja feita anteriormente a infecção do lote e de maneira correta. Ao enfrentar os desafios apresentados pela infecção por MS, é fundamental que os produtores avícolas trabalhem em estreita colaboração com veterinários especializados em avicultura.  Entre em contato conosco. Procure nossa equipe! Autor: Fabrício Schönhals – Médico Veterinário / Consultor Técnico Comercial – Aves de Postura Referências bibliográficas: Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 44, de 23 de agosto de 2001. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 ago. 2001. Seção 1, p. 9. Catania S., Bilato D., Gobbo F., Granato A., Terregino C., Iob L., Nicholas RAJ. Treatment of eggshell abnormalities and reduced egg production caused by Mycoplasma synoviae infection. Avian Diseases 2010;54(2):961-964. Feberwee A., Wit J.J., Landman WJM. Induction of eggshell apex abnormalities by Mycoplasma synoviae: field and experimental studies. Avian Pathology 2009b;38(1):77-85. Raviv Z, Ferguson-Noel N., Laibinis V., Wooten R., Kleven S.H. Role of Mycoplasma synoviae in Commercial Layer Escherichia coli Peritonitis Syndrome. University of Georgia,2007. Umar S., Munir M.T., Uh-Rehman Z., Azam T., Subhan S., Shah M.A.A. Mycoplasmosis in poultry: update on diagnosis and preventive measures. World’s Poultry Science Journal, Vol. 73, March 2017Procure nossa equipe!

Mastite Ambiental

A mastite é uma das principais enfermidades dos bovinos leiteiros, que compromete o bem-estar animal e acarreta diversos prejuízos econômicos para a atividade, tais como queda na produção de leite, aumento dos gastos com medicamentos e mão de obra, descarte de leite com resíduos de antibióticos, entre outros. A mastite é definida como a inflamação da glândula mamária, que pode ser causada por lesões traumáticas, injúrias químicas ou infecções bacterianas, sendo esta última a causa mais comum. Trata-se de uma doença multifatorial, complexa e às vezes, silenciosa quando se refere à mastite subclínica. De acordo com a sua forma de manifestação, a mastite pode ocorrer tanto na forma clínica quanto na subclínica: Mastite clínica: os sinais clínicos são visíveis, como presença de grumos e/ou pus no leite, edema, febre, alterações no aspecto e na coloração do leite; Mastite subclínica: os sinais clínicos são inaparentes e por isso requer testes complementares para sua detecção (California Mastitis Test – CMT e/ou Contagem Eletrônica de Células Somáticas – CCS individual); A mastite clínica também pode ser classificada de acordo com a sua severidade: Mastite clínica de grau 1: leve – com apenas alterações no leite, como presença de grumos e/ou alteração de sua coloração; Mastite clínica de grau 2: moderada – as alterações inflamatórias mais intensas estão presentes, além das citadas anteriormente, ocorre também edema do quarto mamário infectado, vermelhidão e dor; Mastite clínica de grau 3: severa – são causadas em sua maioria por agentes ambientais. Além da alteração no leite e edema de úbere, temos também a presença de sinais sistêmicos. A vaca se apresenta desidratada, anoréxica, com febre, tem depressão acentuada, prostração, podendo inclusive evoluir para o óbito do animal. Já em relação à forma de transmissão, a mastite pode ser classificada em contagiosa ou ambiental, de acordo com o local onde a vaca se infecta: Mastite contagiosa: os animais se infectam durante a ordenha, sendo as teteiras e as mãos do ordenhador as principais fontes de infecção. Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae e Corynebacterium bovis são os principais agentes causadores de mastite contagiosa. Mastite ambiental: os animais se infectam no ambiente de permanência das vacas no intervalo entre as ordenhas. Estes quadros ambientais geralmente estão relacionados ao ambiente com altos desafios, como chuva, umidade e calor excessivos. Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae são as bactérias Gram negativas mais frequentes e com quadros clínicos agudos, e Streptococcus dysgalactiae e Streptococcus uberis são os agentes Gram positivos causadores de mastite ambiental. O tipo de sistema de criação utilizado pode trazer benefícios para melhorar algumas destas situações ou trazer desafios diferentes, pois estão diretamente relacionados ao risco de mastite ambiental. Atualmente existem vários sistemas de criação de bovinos leiteiros (pastejo rotacionado, semi-confinamento, compost barn, free stall, cross ventilation), cada qual com suas particularidades. Nos sistemas de produção à pasto, o desafio para as mastites ambientais é considerável, uma vez que a umidade e o calor favorecem a proliferação rápida de microrganismos ambientais, principalmente os coliformes. Nos sistemas confinados, a matéria orgânica utilizada como cama para os animais também é fonte de contaminação, especialmente quando há superlotação no Compost barn, com acúmulo de umidade e dejetos na superfície da cama. O que podemos esperar de um animal que já passou por uma mastite severa? Como este animal retornará na sua próxima lactação? São perguntas frequentes em propriedades leiteiras e assim as medidas de controle e prevenção da mastite tornam-se essenciais para reduzir os impactos da doença sobre a saúde e produtividade das vacas, além de melhorar os parâmetros associados à qualidade do leite. A figura abaixo apresenta as medidas de controle e prevenção da mastite descritas por meio do Programa de Sete Pontos de Controle da Mastite:     O sétimo ponto, inclui as medidas de biosseguridade dos sistemas de produção de leite, incluindo o manejo da imunidade das vacas por meio da vacinação contra mastite. A Inata Biológicos traz para o mercado as vacinas autógenas para mastite, as quais são produzidas a partir os agentes identificados em cada sistema de produção. A produção da vacina autógena para mastite é iniciada pela coleta de amostras de leite de vacas com mastite clínica e subclínica, para identificação do perfil microbiológico da doença naquela propriedade. As amostras são enviadas ao laboratório para isolamento e identificação dos agentes. Caso necessário, testes adicionais e confirmatórios são utilizados. Atualmente, o PCR para identificação dos fatores de virulência da Escherichia coli associada à mastite permite a escolha das melhores cepas para composição da vacina, garantindo a melhor eficácia da vacina autógena a campo. Autor: Edson Santos Júnior | Consultor Técnico de Bovinos – INATA Biológicos.

Coriza: um agente reincidente na avicultura

Nos últimos anos, o setor de avicultura de postura comercial, passou por um aumento de quadros respiratórios superiores, onde as aves apresentavam sintomas iniciais de secreção nasal e até quadros mais severos com presença de cabeça inchada, sugestivos de Coriza Infecciosa.  Prevalência essa que pode ser confirmada ao verificarmos a os dados laboratoriais de isolamentos de Avibacterium paragallinarum entre os anos de 2019 a 2022.    A coriza é uma enfermidade causada pelo Avibacterium paragallinarum, bactéria Gram negativa, classificada em Sorogruprupos A, B e C que acomete aves em todas as fases, no entanto é mais comum de ser observada na fase de Recria – 07 a 10 semanas de idade e em Produção- 22 a 32 semanas de idade.   O local de replicação do agente fica restrito a região da cabeça no seio Infaorbitário e dessa forma observamos sinais clínicos de trato respiratório superior, como secreção nasal, conjuntivite, inchaço unilateral ou bilateral da cabeça, conforme as fotos abaixo:    Geralmente os sinais clínicos iniciais são discretos, o que dificulta a percepção pelo responsável do galpão e quando são observados, as aves já estão apresentando um quadro clínico crônico. Observa-se aves com inchaço severo da cabeça, prostração, perda de apetite, desuniformidade do lote, queda na produção de ovos de até 40%, mortalidade das aves que estão mais acometidas, acarretando grande prejuízo econômico. De acordo com o observado a campo, o curso da doença fica em torno de 08 semanas de duração, em que nas duas primeiras semanas tem se uma queda de produção e mortalidade expressiva, e nas semanas seguintes o quadro clínico vai sendo controlado.   A transmissão é horizontal e ocorre por contato direto entre as aves, aerossóis, equipamentos, alimentos e água contaminada. Em sistemas de criação onde tem-se bebedouros pendulares ou “bica corrida” essa contaminação acontece de forma mais rápida, uma vez que todas as aves têm a acesso a mesma fonte de água. Nesse caso, o manejo é muito importante para o controle da morbidade (aves doentes) que é alta, apesar de baixa mortalidade.  Esse tipo de quadro clínico respiratório pode estar associado a outros patógenos como Mycoplasma gallisepticum, Mycoplasma synoviae, Escherichia coli, Gallibacterium anatis, Pasteurella multocida, Bronquite Infecciosa e Pneumovírus aviário (Sarika et al, 2019). Dessa forma o diagnóstico laboratorial é de grande importância para estabelecer as formas de controle, tratamento e prevenção da doença   À necropsia detalhada das aves com sinais clínicos é de grande importância para o direcionamento das análises laboratoriais. Em aves com quadro de Coriza Infecciosa observa-se lesões macroscópicas de sinusite com presença de massa caseosa no seio infraorbitário, conforme as fotos abaixo:    A coleta de material para laboratório deve ser realizada em aves que apresentem sinais clínicos em estágios iniciais a moderados e que não tenham recebido nenhuma antibioticoterapia. O diagnóstico de Coriza se baseia na análise bacteriológica ou na detecção molecular do agente (PCR), conforme a tabela abaixo:    A bacteriologia geralmente é a mais utilizada pois além de favorecer o isolamento do agente, também contribui para execução do antibiograma e definição de qual a melhor base terapêutica a ser utilizada. Em lotes positivos com alta morbidade recomenda-se a utilização de antimicrobianos via água, ração ou injetável, conforme recomendação do médico veterinário.  Em casos em que seja observadas poucas aves com sintomatologia, recomenda-se fazer a separação e aplicação de antibiótico injetável em aves menos acometidas e eliminação das aves com sintomas severos, a fim de controlar a disseminação da doença.   Por que em algumas propriedades é tão difícil de controlar os quadros de Coriza?  A resposta dessa pergunta está na baixa proteção cruzada que esses agentes têm entre si!  Algumas características da Avibacterium paragallinarum contribuem para a dificuldade de controle da doença mesmo em aves vacinadas com duas doses de vacinas comerciais. Essa particularidade se dá devido à sua composição de membrana que contém as hemaglutininas que lhe conferem uma diferenciação por sorogrupos e não somente por composição genética. A hemaglutinina é o principal componente que confere a patogenicidade e imunogenicidade da Avibacterium paragallinarum (Yamaguchi et al., 1993).  Essa variação antigênica entre a Avibacterium paragallinarum foi classificada em 03 sorogrupos diferentes: A, B e C (Page, L. A, 1962) e nove sorotipos (Blackall et al., 1990).  Os sorogrupos possuem uma baixa proteção cruzada entre si e esse é o motivo de termos lotes vacinados que apresentem problemas clínicos de Coriza. Essa afirmativa foi mais bem descrita por Soriano et al,2004, onde aves foram vacinadas e desafiadas com os Sorogrupos específicos de Coriza. Assim aves vacinadas com Coriza Cepa A1 foram desafiadas com a cepa A1 e avaliada a proteção; aves vacinadas com A1 foram desafiadas com Coriza cepa A2 e assim por seguinte, conforme tabela abaixo:  Dessa forma, observa-se que onde as aves foram vacinadas e desafiadas com cepas semelhantes ou próximas a proteção foi considerada adequada, de 70% a 100% (marcação em Azul). Sendo assim para uma proteção adequada para Coriza Infecciosa é de grande importância que seja utilizada a cepa local na imunização das aves.   Como controlar?  O controle da Coriza Infecciosa é realizado com vacinas autógenas, comerciais e as medidas de biosseguridade!      Em propriedades que possuem o histórico do problema são utilizadas duas a três doses de vacina para coriza, contabilizando as vacinas autógenas e a vacina comercial. O isolamento bacteriano utilizado no diagnóstico possibilita a geração da cepa local de Coriza Infecciosa e produção da vacina específica para a propriedade que é a vacina autógena!  Os programas vacinais devem ser configurados conforme a necessidade de cada propriedade, pois a vacinação deve ser realizada antes da idade em que o problema começa. Outro ponto importante no controle da enfermidade é a escolha de qual vacina inicial será utilizada, vacina com adjuvante oleoso que garante uma resposta prolongada ou uma vacina gel onde a proteção é imediata.  A avaliação de cada caso clínico é extremamente importante, aliado ao diagnostico bem realizado para traçar as estratégias de controle da Coriza Infecciosa!  Referências: Blackall PJ, Eaves LE, Rogers DG. (1990): Proposal of a new serovar and altered nomenclature for

Genótipos e diversidade de circovírus suíno tipo 2 (PCV-2) associados à doença clínica em suínos entre 2017-2022 no Brasil

A suinocultura mundial vem enfrentando a emergência de muitas doenças virais nos últimos anos, com destaque para o circovírus suíno tipo 2 (PCV-2). O PCV-2 causa infecção em suínos de curso subclínico a fatal, podendo desencadear a síndrome do definhamento multissistêmico (SMD), síndrome da dermatite e nefropatia (PDNS), além de falhas reprodutivas (abortamento, fetos mumificados e natimortos), doença respiratória e quadros entéricos, conjuntamente denominados de doenças associadas ao PCV-2 (PCVD) (2). O PCV-2 possui genoma circular de DNA, com aproximadamente 1800 pares de base (pb), na qual a ORF2, que apresenta 699pb, codifica a proteína estrutural do capsídeo viral e constitui no principal alvo dos anticorpos neutralizantes. Principalmente a partir da análise da ORF2, oito genótipos (PCV-2a – PCV-2h) estão estabelecidos e associados aos diferentes quadros clínicos, onde os genótipos PCV-2a, PCV-2b e PCV2-d encontram-se mundialmente distribuídos (1). Apesar do uso de vacinas contra o PCV-2, o vírus continua circulando e causando doença clínica em rebanhos suínos. Desta forma, o conhecimento sobre os genótipos e sobre a diversidade genética dos PCV-2 circulantes no Brasil, é fundamental para desenvolvimento e avaliação de vacinas e de testes de diagnóstico. Portanto, este estudo caracterizou geneticamente isolados de PCV-2 obtidos de suínos com PCVD, em diversos estados brasileiros entre os anos de 2017-2022.  Seguem abaixo algumas imagens que exemplificam as lesões encontradas a campo, que podem ser correlacionadas com Circovirose, lembrando que o diagnóstico definitivo deve sempre ser acompanhado de uma achados histopatológicos e se possível marcação imuno-histoquímica       *Fonte: Débora Matias, Matheus Reis.   Material e métodos  Amostras de tecidos de suínos previamente diagnosticados com PCV-2 e que apresentaram sinais clínicos sugestivos de PCVD (doença respiratória, SMD, PDNS e fetos mumificados) foram utilizados neste estudo. As amostras foram coletadas em diferentes granjas nos estados de SC, PR, RS, MT, GO e MG entre os anos de 2017-2022 (3). Um total de 60 isolados de PCV-2, zzpreviamente testados por PCR, tiveram a ORF2 amplificada, seguido de purificação e quantificação para sequenciamento do DNA, em duplicata, pelo método Sanger (4). A análise filogenética foi realizada a partir dos alinhamentos das sequências de DNA geradas e de isolados de PCV-2 de referência de todos os genótipos, utilizando o programa MEGA 11. Para identificar as regiões variáveis, as sequências de aminoácidos foram alinhadas e analisadas no programa Geneious. Resultados e discussão Do total de 60 isolados de PCV-2, 43 isolados foram classificados em PCV-2d e 17 em PCV-2b (tabela 1). Todos os 30 isolados coletados até 2018 foram classificados como PCV-2d e dos 30 isolados coletados de 2019-2022, 17 foram classificados como PCV-2b e 13 como PCV-2d. Desde a sua emergência, no final dos anos 90 até o início dos anos 2000, o PCV-2a foi o genótipo mais prevalente em suínos no mundo. Em seguida, houve uma mudança de predominância, e o PCV-2b começou a ser o genótipo mais detectado. Todavia, a partir de 2015, o PCV-2d vem se tornando o genótipo mais prevalente, e novos genótipos vem sendo descritos, mas com distribuição pontual e baixa prevalência. Analisando a sequência de aminoácidos dos isolados obtidos neste estudo e comparando com cepas de referência de cada genótipo observou-se que as regiões dos aminoácidos: 53-68, 121-136, 185-191 e 206-217 (figura 1) foram as que mais apresentaram variações, decorrentes de mutações ocorridas em tais regiões. Essas regiões são conhecidas por serem domínios imunorreativos, ou seja, por serem regiões-alvo da resposta imune do hospedeiro. Portanto, variações nessas regiões podem acarretar diminuição da eficácia vacinal devido ao comprometimento da reatividade cruzada entre os isolados circulantes a campo e as cepas vacinas.     Conclusão  Neste estudo observou-se uma predominância do PCV-2d, seguida do PCV-2b em amostras de suínos diagnosticados com PCVD entre os anos de 2017-2022, provenientes de vários estados brasileiros. Os isolados brasileiros apresentaram variações em regiões genômicas importantes para a avaliação e desenvolvimento de vacinas (Projeto financiado por FAPESC N° 27/2021).     Referências Barcellos D., Guedes R.M.C. Doenças dos Suínos. Porto Alegre: 2022. 1060 p. (2) Segalés J. Porcine circovirus type 2 (PCV2) infections: Clinical signs, pathology and laboratory diagnosis. Virus Research, v. 164, n. 1–2, p. 10–19, 2012. (3) Santo A.C.D., Cezario K.C., Bennemann, P.E., et al. Full-genome sequences of porcine circovirus 3 (PCV3) and high prevalence in mummified fetuses from commercial farms in Brazil. Microbial Pathogenesis, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.micpath.2020.104027. (4) Rincón M.M.A., Ramirez-Niet G.C., Vera V.J., et al. Detecção e caracterização molecular do circovírus suíno tipo 2 em leitões com doenças associadas ao circovírus suíno na Colômbia. Virol J 11 , 143, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1186/1743-422X-11-143