Suinocultura

PRESSÃO DE INFECÇÃO NA SUINOCULTURA

“Pressão de infecção” é uma expressão que diz respeito à carga microbiológica que circula no ambiente com potencial patogênico aos animais. Quanto maior a pressão de infecção, maior é a chance do surgimento de doenças clínicas no plantel. O sistema intensivo da suinocultura possui naturalmente uma pressão de infecção maior comparado a outros sistemas, devido a fatores como: concentração de granjas em determinadas áreas geográficas, alta densidade, sistemas de manejo contínuo, e contato com dejetos.  Á partir do momento em que se povoa uma nova instalação, a carga microbiológica do ambiente começa a aumentar e, com o passar do tempo, a carga é cada vez maior. Em um determinado momento, se não houver manejos estratégicos, a carga microbiológica é tão alta que ultrapassa um limiar em que o organismo dos animais é capaz de suportar, ocasionando perda de desempenho e doença clínica nos animais. Um exemplo disso é a falha no manejo de limpeza e desinfecção nas granjas, comprometendo não somente a sanidade dos animais, como também seu desempenho. Pensando nisso, Floch et al. (2014), alojaram um grupo de animais em fase de crescimento a condições de higiene ruis, caracterizada pelo alojamento em salas anteriormente ocupadas por suínos sem terem sido limpas nem desinfetadas antes e durante o período deste estudo. Enquanto, um segundo grupo foi alojado em condições boas, em salas limpas e desinfetadas.   As condições de higiene ruins diminuíram o desempenho dos animais em 20% (p<0,05), bem como, afetou a digestibilidade total dos nutrientes das rações fornecidas (p<0,001). Além disso, uma resposta inflamatória sistêmica nos animais alojados em condições ruins foi observada, com acréscimo de 50% em concentrações de haptoglobina, 10% em números de linfócitos e 40% em número de granulócitos (p<0,05), demonstrando o impacto negativo da falta de protocolos estruturados de limpeza e desinfecção e do aumento de pressão de infecção nas granjas. Á fim de reduzir a pressão de infecção e evitar seus efeitos negativos, diversas medidas vêm sendo utilizadas, como: manejo todos-dentro/todos-fora, protocolos rigorosos de limpeza e desinfecção, medidas de biosseguridade e, protocolos vacinais robustos. Scollo e colaboradores (2023), publicaram um artigo na Animals que buscou avaliar o impacto de práticas de biosseguridade personalizadas com treinamentos para as equipes de funcionários em 20 granjas de suínos ao longo de 12 meses. A pesquisa focou em reduzir a contaminação ambiental e o risco de propagação de doenças entre os animais, medidos através dos níveis de ATP (adenosina trifosfato) como indicador de contaminação e da presença de Escherichia coli. O treinamento específico das equipes resultou em melhora significativa nas condições gerais de biosseguridade das granjas (p = 0,006). Como consequência, houve uma redução média de 39% nos níveis de ATP no ambiente (p = 0,039) e diminuição de 30% na prevalência de Escherichia coli resistente a antibióticos (SCOLLO et al., 2023). Com estes resultados, fica evidente que planos de biosseguridade personalizados, aliados ao treinamento adequado das equipes são ferramentas necessárias na redução da pressão de infecção das granjas. Práticas que associem as diversas medidas para diminuição da pressão de infecção nas granjas são essenciais e vêm sendo estudadas. Uma delas, é a associação da implementação de biosseguridade com a vacinação dos animais. Nesse sentido, Lopez-Moreno e colaboradores (2022), avaliaram a eficácia de medidas internas de biosseguridade combinadas com a vacinação autógena massal de matrizes, a fim de prevenir a infecção pelo vírus influenza A em grupos de leitões desmamados em 6 granjas nos Estados Unidos. As práticas de biosseguridade interna avaliadas incluíram:  não movimentar leitões após 3 dias de idade, não utilizar mãe-de-leite para leitões atrasados (sem desmame segregado), troca de luva ao manusear leitões de diferentes leitegadas, não pisar nas gaiolas parideiras, desinfecção diária de ferramentas e materiais utilizados para manejar os leitões e funcionários segregados em blocos. Após 8 semanas de avaliação, foi observado que a incidência da infecção por influenza A foi reduzida em 62% nos grupos de leitões desmamados (p<0,05), e o número de leitões com sintomas clínicos, reduzido em 55% (LOPEZ-MORENO et al., 2022). Além disso, leitões do grupo de vacinação e biosseguridade apresentaram um ganho de peso diário médio 20% superior (0,9 kg/dia) em comparação com o grupo controle (0,75 kg/dia) (LOPEZ-MORENO et al., 2022). Estes resultados demonstram que a combinação de medidas rigorosas de biosseguridade e a vacinação das matrizes é capaz de reduzir a pressão de infecção também em doenças virais, como o caso da Influenza A. De maneira geral, reduzir a pressão de infecção na suinocultura é um desafio contínuo, que demanda bom conhecimento epidemiológico, gestão sanitária eficiente, e rigoroso cumprimento de protocolos de prevenção. A implementação de medidas de controle associadas são essenciais para garantir um bom resultado na redução dessa pressão. Autora: Julia Montes | Coordenadora Técnica Suínos – INATA Biológicos.

RELAÇÃO AMBIENTE E DOENÇAS RESPIRATÓRIAS

A relação entre meio ambiente e doenças do sistema respiratório tem sido discutida há muitos anos (PIFFER et al., 1983), devido às perdas econômicas ocasionadas por essas enfermidades. Straw (1983) demonstrou pioras no ganho de peso diário, e segundo Piffer et al. (1985), a cada 10% do parênquima pulmonar afetado há uma redução de 9,3% no desenvolvimento dos animais, podendo chegar a 14,7% quando associada à pleurisia. Neto & Lowenthal (1989) encontraram uma diminuição no ganho de peso dos animais com lesões de pneumonia e rinite atrófica, que correspondeu a cinco dias adicionais para atingir o peso de abate. Atualmente, mesmo com instalações modernas e manejos aprimorados, o desafio e as perdas com as doenças respiratórias ainda afetam a produção de suínos causando prejuízos. Estima-se que para cada 1% de lesão pulmonar há uma diminuição de 1,8 g no ganho de peso diário em suínos de terminação, e que, animais com menos de 15% de lesões pulmonares possuem um ganho de U$ 6,55 por animal ao abate comparado a animais com maior percentual de lesão (FERRAZ et al., 2020). Além das variáveis ambientais, outros fatores podem estar associados a doenças respiratórias, como: falhas nutricionais, erros de manejo, instalações de baixa qualidade, presença de situações estressantes e doenças imunodepressoras. Estes fatores afetam primeiramente o trato respiratório superior, prejudicando os mecanismos de defesa das narinas e consequentemente a filtração de partículas infecciosas e poluentes suspensos do ar. Além disso, pode ocorrer prejuízo ao processo de umidificação e aquecimento do ar inalado, favorecendo o surgimento da doença clínica na produção de suínos (BARCELLOS et al., 2008). Diante disso, novos estudos vêm sendo desenvolvidos a fim de avaliar o impacto do ambiente na saúde respiratória dos animais e no seu desempenho. Recentemente, um estudo comparou lotes de suínos terminados em uma granja de ventilação mecânica com uma granja de ventilação natural, e observou-se que a granja com ventilação natural possuía um ambiente com menor conforto térmico, e maior detecção de gás carbônico e amônia nas instalações. Além disso, a chance de se obter amostras soropositivas para Influenza A foi 3,17 maior na unidade ventilada naturalmente (P = 0,003), com ganho médio diário melhor na unidade ventilada mecanicamente com acréscimo de 9,2 g/dia (CHANTZIARAS et al., 2020).  Michiels et al. (2015) verificaram que tanto a amônia quanto as partículas suspensas no ar causam efeitos diretos na saúde respiratória dos suínos. No caso da amônia, concentrações crescentes no galpão resultaram em maior chance de lesões de pleurisia (OR = 21,54; P = 0,003), e também maior chance dos animais serem positivos através de PCR em amostras nasais para M. hyopneumoniae (OR = 70,39; P = 0,04 na primeira metade da terminação e OR = 8275,05; P = 0,01 na segunda metade). Além dos gases, a temperatura e a sazonalidade também influenciam a saúde respiratória dos animais, podendo deixá-los mais susceptíveis a determinadas infecções. Com base nisso, Fréderic et al. (2021) buscaram determinar a prevalência de diferentes patógenos causadores do complexo respiratório suíno e suas variações durante diferentes estações, incluindo correlações com as condições climáticas locais. Entre os resultados obtidos, os autores observaram uma maior prevalência de patógenos respiratórios, incluindo M. hyopneumoniae, durante a estação de inverno em suínos de terminação. Encontraram também uma associação dos agentes com as condições climáticas, no qual a variação de temperatura foi negativamente associada a PRRSv-1 (OR = 0,921), PCV2 (OR = 0,834) e M. hyopneumoniae (OR = 0,818). Já, a direção do vento foi positivamente associada a M. hyopneumoniae e PCV2 (OR = 1,026), e negativamente associada a PRRSv (OR = 0,981) (P < 0,0001).  Na tentativa de minimizar os problemas ambientais nas instalações, para movimentar e eliminar partículas de aerossóis poluentes suspensos no ar, a ventilação é um mecanismo utilizado. Porém, existe a necessidade de ajuste na regulagem dos níveis de ventilação, pois em excesso pode gerar correntes de ar e criar um ambiente frio para os leitões. No entanto, a estagnação do ar leva ao acúmulo de pó, gases, bactérias em suspensão e endotoxinas no interior dos galpões (BARCELLOS et al., 2008). No Brasil, o ajuste geralmente é feito pelo manejo manual das cortinas e muitas vezes é mal realizado, gerando grandes flutuações térmicas diárias na instalação e acúmulo de gases. A realização de um controle ambiental adequado nas instalações de suínos com o uso de termômetros para medição de temperatura e medidores de gases para monitorias frequentes é de extrema importância para mitigar fatores associados ao aparecimento de doenças respiratórias. Autora: Julia Montes | Coordenadora Técnica Suínos – INATA Biológicos.

VACINAÇÃO MASSAL PARA INFLUENZA A EM SUÍNOS

Após a entrada do vírus da Influenza A (H1N1) em 2009 no Brasil, a população suína apresentou surtos de H1N1 associados a doenças respiratórias, localizados principalmente nas principais regiões de produção de suínos (sul, centro-oeste e sudeste) do Brasil (NELSON et al., 2015). As perdas econômicas em consequência do seu aparecimento nas granjas suínas têm sido relatadas em todo mundo e podem variar entre US$ 3,23 e US$ 10,23 por leitão produzido. A doença é caracterizada por um quadro clínico respiratório agudo, acometendo grande número de suínos de várias faixas etárias, sendo considerado como o principal agente etiológico associado ao Complexo das Doenças Respiratórias dos Suínos (SCHAEFER et al., 2013).  O surgimento do vírus H1N1 é um rearranjo entre vírus suíno e aviário, e desde então, a transmissão recorrente do vírus da Influenza A de humanos para suínos, conhecidos como eventos de zoonose reversa, foram observados em todos os continentes se espalhando na população suína (SOUZA et al., 2018). A vacinação é um ponto importante para o controle do vírus da Influenza A, porém, pela capacidade do vírus de realizar mutações pontuais e rearranjos, chamados de “drift” e “shift” antigênicos, há grandes desafios em seu uso. Quanto maior a semelhança da vacina com a cepa infecciosa a campo, melhor é a resposta imune (CARRAT et al., 2007). Por este motivo, as vacinas devem ser continuamente atualizadas e modificadas para corresponder às cepas circulantes.  A hemaglutinina é a proteína viral mais abundante presente na superfície do vírus da Influenza A, compreendendo cerca de 80% das proteínas de membrana viral e é o principal alvo para o desenvolvimento de vacinas (EVERETT et al., 2019). O uso de vacinas autógenas inativadas com cepas endêmicas para cada granja vem aumentando e pode ser uma alternativa mais eficaz comparada as vacinas comerciais (HAMISH et al., 2021). Vários protocolos vêm sendo pesquisados á fim de obter melhores resultados em sua utilização, como é o caso da vacinação das matrizes pré-parto, vacinação massal do plantel reprodutivo e vacinação dos leitões.  O uso da vacinação massal em granjas suínas nos planteis reprodutivos já foi relatado no controle de diversas doenças virais, como:  doença de Aujeszky (WILLEBERG et al., 1996), Peste Suína Clássica (GREISER-WILKE e MOENNIG, 2004), Febre Aftosa (POULIN & CHRISTIANSON, 2006), Síndrome Reprodutiva e Respiratória Suína (PRRS) (GILLESPIE & CARROLL, 2003; CANO et al., 2007), Circovirose (FENG et al., 2014), e incluindo Influenza A (CORZO et al., 2012).   No caso da Influenza A, o uso do protocolo vacinal massal diminuiu a eliminação viral tanto em matrizes como em leitões lactantes.  No caso dos leitões, essa estratégia chegou a zerar o número de animais positivos para Influenza até o desmame, após o protocolo massal completo nas matrizes (CORZO et al., 2012).  Esses resultados demonstram a capacidade deste protocolo em melhorar a pressão de infecção no plantel reprodutivo e, consequentemente nos leitões, reduzindo expressivamente a excreção viral e impactando positivamente as fases seguintes da produção.  O uso dessa ferramenta vem sendo amplamente utilizada nos EUA, principalmente com o uso das vacinas autógenas inativadas, que utilizam as cepas endêmicas especificas de cada granja. No Brasil, essa estratégia vem crescendo a cada dia e resultados positivos já podem ser observados com o uso da vacina autógena.  A Inata Biológicos é pioneira no uso de vacinas autógenas contra o vírus de Influenza A no Brasil, e traz a oportunidade de se realizar a imunização dos plantéis reprodutivos com o objetivo de reduzir a pressão de infecção e consequentemente diminuir a circulação de Influenza A nas granjas brasileiras.  Vacine já o plantel reprodutivo da sua granja e garanta os benefícios de um plantel imunizado e protegido para o inverno contra a Influenza. PLANTEL MENOS SUSCEPTÍVEL, É SINÔNIMO DE MAIOR PRODUTIVIDADE E PROMOÇÃO DE SAÚDE E BEM-ESTAR AOS ANIMAIS. Autora: Julia Montes | Coordenadora Técnica Suínos – INATA Biológicos.

Rotavírus Suíno: Entenda os sinais

Por Matheus Reis A rotavirose é uma das principais gastroenterites virais em neonatos de diferentes espécies, incluindo o homem. Apesar dos rotavírus estarem relacionados antigenicamente, o rotavírus suíno acomete apenas a espécie suína.  Em suínos, os surtos de diarreia ocorrem principalmente em leitões lactentes, mas pode ocorrer também na fase de creche, o que leva a prejuízos econômicos relacionados a mortalidade, refugagem, perda de peso e uso disseminado de medicamentos.  Atualmente tem-se descrito os grupos de rotavírus (RV) A, B, C e H em suínos as infecções pelos tipos A (RVA) e C (RVC) são as mais frequentes em suínos e, portanto, são as mais estudadas.   O Rotavírus suíno está presente na maioria dos planteis mundiais e estudos mostram que a maioria dos suínos adultos apresentam anticorpos contra o agente, ou seja, foram infectados em algum momento e podem ou não ser portadores.  Patogenia   A categoria de animais frequentemente mais afetada são os leitões entre 2 a 6 semanas, que são expostos ao vírus por animais portadores e em ambientes contaminados, e podem desenvolver a doença clínica ou subclínica.  Uma característica importante do agente é a sua resistência às condições ambientais e a desinfetantes, o que assegura a sua sobrevivência nas instalações de criação de suínos, tornando o vírus endêmico no plantel. O RV pode ser encontrado em fezes e manter sua infectividade por 7 a 9 meses em temperatura ambiente.  O período de incubação varia de 2 a 4 dias e a transmissão é fecal-oral. O vírus tem tropismo por enterócitos maduros e acomete o intestino delgado invadindo e destruindo as vilosidades do epitélio intestinal.   O resultado é a atrofia das vilosidades que ocasionam a má absorção e diarreia osmótica, que dificultam a digestão de açúcares e transporte celular de nutrientes e eletrólitos que levam o leitão à: desidratação, deficiência de energia e hipoglicemia.  A doença pode ocorrer na forma de casos esporádicos e em grandes surtos. Os principais sinais clínicos da rotavirose são:   Anorexia;                                              Vômitos ocasionais;  Diarreia;  Aumento da mortalidade e alta morbidade dos leitões acometidos na maternidade.  A frequência e gravidade dos sintomas dependem:   da dose infectante;  da imunidade adquirida pela ingestão de anticorpos maternais do colostro/leite;  envolvimento de outros enteropatógenos (E. coli, Clostridium perfringens/C. dificille, Cystoisospora suis);  A mortalidade varia entre 3 a 20%; quando a infecção ocorre associada a outros agentes entéricos, pode haver manifestações clínicas mais graves refletindo em mortalidade mais elevada.  A proteção dos anticorpos maternos persiste por 3 a 4 semanas e os surtos ocorrem frequentemente quando os leitões ultrapassam essa idade, ou quando não receberam níveis de proteção dos anticorpos maternais suficientes para proteção contra o grau de exposição ao vírus.   Diagnóstico  Para o diagnóstico da rotavirose em suínos, deve-se buscar detectar a presença do agente no intestino ou fezes, por uma ou mais técnicas, e demonstrar a existência de lesões pela histopatologia. Para detecção do agente, a técnica mais comumente utilizada é a PCR. Isolamento viral ou imunocromatografia também podem ser utilizados. o processo de isolamento viral realiza-se tratamento das amostras com antibióticos. Dessa forma, fezes de animais previamente medicados continuam sendo aptas a esse teste.   É importante a coleta de material dos animais com sinais clínicos evidentes e iniciais. Para detecção do agente e de outros patógenos entéricos, sugere-se enviar ao laboratório os intestinos dos animais necropsiados e pool de fezes de diferentes baias acometidas. Devido à semelhança dos sinais clínicos causados pela rotavirose e por outras infecções entéricas em leitões jovens, é aconselhável que o diagnóstico considere os principais diagnósticos diferenciais, como colibacilose, coccidiose e clostridioses.  Para realização de histopatologia devem ser enviados fragmentos de diferentes porções do intestino (jejuno, íleo, ceco e cólon) e órgãos parenquimatosos como linfonodos mesentéricos, fígado e baço; fixados em formol a 10%. A histopatologia é importante para demonstrar se há ou não lesões compatíveis com a doença, uma vez que alguns animais podem ser positivos para o vírus, mas não apresentar lesões. Também, o PCR ou isolamento podem ser negativos dependendo do curso clínico da doença, mas as alterações microscópicas ainda assim poderiam ser observadas e permitir o diagnóstico. Abaixo seguem algumas fotos de lesões microscópicas que podem ser observadas na rotavirose.   Legendas:  A: Os enterócitos do topo das vilosidades apresentam-se vacuolizados (seta). Na lâmina própria observa-se edema e células inflamatórias (asterisco);  B: Com a ação do vírus, as células sofrem necrose e se desprendem da vilosidade, deixando-a “desnuda” (seta);  C: Com a evolução do quadro, ocorre atrofia (encurtamento) das vilosidades, o que diminui a capacidade de absorção do intestino;    Essas lesões são bastante sugestivas da rotavirose, embora elas ainda possam ser causadas por outros vírus entéricos de pouca relevância clínica ou por vírus exóticos no Brasil, como o coronavírus da diarreia epidêmica suína (PED). A demonstração do Rotavírus nas lesões histológicas pode ser feita por imuno-histoquímica ou hibridização in situ, se disponíveis.    Controle  O uso de antibióticos não é eficaz para combater o vírus, porém, pode ser indicado em caso de ocorrência de doenças bacterianas concomitantes.  Fatores predisponentes para a ocorrência da doença devem ser observados, como:  Baixa temperatura ambiental;  Má nutrição da porca e leitões  Qualidade/ingestão de colostro;   Exposição dos leitões a grandes quantidades de partículas virais infectantes;  Limpeza e desinfecção das baias (uso de desinfetantes com ação viral);  Vazio sanitário.  A Inata Biológicos, sendo a primeira empresa do Brasil a produzir vacinas autógenas virais, traz mais essa solução para a Suinocultura:   Vacina Autógena Viral – ROTAVÍRUS (A):   Baseada nos isolamentos da sua granja.  Possibilidade de inclusão de agentes bacterianos secundários, que exacerbam os desafio entéricos como E.coli e Clostridium perfringens  Modo de Usar: Vacinação das Matrizes aos 70 e 90 Dias de gestação no primeiro giro, depois manter a vacinação aos 90 dias de gestação Vacinação da Leitoas: aos 70 e 90 Dias de gestação. Conclusão  O controle da rotavirose suína está atrelado a um diagnóstico laboratorial assertivo, fortalecimento da biosseguridade, boas práticas de manejo como protocolos de limpeza e desinfecção das instalações, bom manejo de colostro e, sobretudo, o aumento da imunidade do plantel, com a vacinação das matrizes e leitoas preferencialmente

Genótipos e diversidade de circovírus suíno tipo 2 (PCV-2) associados à doença clínica em suínos entre 2017-2022 no Brasil

A suinocultura mundial vem enfrentando a emergência de muitas doenças virais nos últimos anos, com destaque para o circovírus suíno tipo 2 (PCV-2). O PCV-2 causa infecção em suínos de curso subclínico a fatal, podendo desencadear a síndrome do definhamento multissistêmico (SMD), síndrome da dermatite e nefropatia (PDNS), além de falhas reprodutivas (abortamento, fetos mumificados e natimortos), doença respiratória e quadros entéricos, conjuntamente denominados de doenças associadas ao PCV-2 (PCVD) (2). O PCV-2 possui genoma circular de DNA, com aproximadamente 1800 pares de base (pb), na qual a ORF2, que apresenta 699pb, codifica a proteína estrutural do capsídeo viral e constitui no principal alvo dos anticorpos neutralizantes. Principalmente a partir da análise da ORF2, oito genótipos (PCV-2a – PCV-2h) estão estabelecidos e associados aos diferentes quadros clínicos, onde os genótipos PCV-2a, PCV-2b e PCV2-d encontram-se mundialmente distribuídos (1). Apesar do uso de vacinas contra o PCV-2, o vírus continua circulando e causando doença clínica em rebanhos suínos. Desta forma, o conhecimento sobre os genótipos e sobre a diversidade genética dos PCV-2 circulantes no Brasil, é fundamental para desenvolvimento e avaliação de vacinas e de testes de diagnóstico. Portanto, este estudo caracterizou geneticamente isolados de PCV-2 obtidos de suínos com PCVD, em diversos estados brasileiros entre os anos de 2017-2022.  Seguem abaixo algumas imagens que exemplificam as lesões encontradas a campo, que podem ser correlacionadas com Circovirose, lembrando que o diagnóstico definitivo deve sempre ser acompanhado de uma achados histopatológicos e se possível marcação imuno-histoquímica       *Fonte: Débora Matias, Matheus Reis.   Material e métodos  Amostras de tecidos de suínos previamente diagnosticados com PCV-2 e que apresentaram sinais clínicos sugestivos de PCVD (doença respiratória, SMD, PDNS e fetos mumificados) foram utilizados neste estudo. As amostras foram coletadas em diferentes granjas nos estados de SC, PR, RS, MT, GO e MG entre os anos de 2017-2022 (3). Um total de 60 isolados de PCV-2, zzpreviamente testados por PCR, tiveram a ORF2 amplificada, seguido de purificação e quantificação para sequenciamento do DNA, em duplicata, pelo método Sanger (4). A análise filogenética foi realizada a partir dos alinhamentos das sequências de DNA geradas e de isolados de PCV-2 de referência de todos os genótipos, utilizando o programa MEGA 11. Para identificar as regiões variáveis, as sequências de aminoácidos foram alinhadas e analisadas no programa Geneious. Resultados e discussão Do total de 60 isolados de PCV-2, 43 isolados foram classificados em PCV-2d e 17 em PCV-2b (tabela 1). Todos os 30 isolados coletados até 2018 foram classificados como PCV-2d e dos 30 isolados coletados de 2019-2022, 17 foram classificados como PCV-2b e 13 como PCV-2d. Desde a sua emergência, no final dos anos 90 até o início dos anos 2000, o PCV-2a foi o genótipo mais prevalente em suínos no mundo. Em seguida, houve uma mudança de predominância, e o PCV-2b começou a ser o genótipo mais detectado. Todavia, a partir de 2015, o PCV-2d vem se tornando o genótipo mais prevalente, e novos genótipos vem sendo descritos, mas com distribuição pontual e baixa prevalência. Analisando a sequência de aminoácidos dos isolados obtidos neste estudo e comparando com cepas de referência de cada genótipo observou-se que as regiões dos aminoácidos: 53-68, 121-136, 185-191 e 206-217 (figura 1) foram as que mais apresentaram variações, decorrentes de mutações ocorridas em tais regiões. Essas regiões são conhecidas por serem domínios imunorreativos, ou seja, por serem regiões-alvo da resposta imune do hospedeiro. Portanto, variações nessas regiões podem acarretar diminuição da eficácia vacinal devido ao comprometimento da reatividade cruzada entre os isolados circulantes a campo e as cepas vacinas.     Conclusão  Neste estudo observou-se uma predominância do PCV-2d, seguida do PCV-2b em amostras de suínos diagnosticados com PCVD entre os anos de 2017-2022, provenientes de vários estados brasileiros. Os isolados brasileiros apresentaram variações em regiões genômicas importantes para a avaliação e desenvolvimento de vacinas (Projeto financiado por FAPESC N° 27/2021).     Referências Barcellos D., Guedes R.M.C. Doenças dos Suínos. Porto Alegre: 2022. 1060 p. (2) Segalés J. Porcine circovirus type 2 (PCV2) infections: Clinical signs, pathology and laboratory diagnosis. Virus Research, v. 164, n. 1–2, p. 10–19, 2012. (3) Santo A.C.D., Cezario K.C., Bennemann, P.E., et al. Full-genome sequences of porcine circovirus 3 (PCV3) and high prevalence in mummified fetuses from commercial farms in Brazil. Microbial Pathogenesis, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.micpath.2020.104027. (4) Rincón M.M.A., Ramirez-Niet G.C., Vera V.J., et al. Detecção e caracterização molecular do circovírus suíno tipo 2 em leitões com doenças associadas ao circovírus suíno na Colômbia. Virol J 11 , 143, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1186/1743-422X-11-143