Coriza: um agente reincidente na avicultura

Nos últimos anos, o setor de avicultura de postura comercial, passou por um aumento de quadros respiratórios superiores, onde as aves apresentavam sintomas iniciais de secreção nasal e até quadros mais severos com presença de cabeça inchada, sugestivos de Coriza Infecciosa.  Prevalência essa que pode ser confirmada ao verificarmos a os dados laboratoriais de isolamentos de Avibacterium paragallinarum entre os anos de 2019 a 2022. 

 

A coriza é uma enfermidade causada pelo Avibacterium paragallinarum, bactéria Gram negativa, classificada em Sorogruprupos A, B e C que acomete aves em todas as fases, no entanto é mais comum de ser observada na fase de Recria – 07 a 10 semanas de idade e em Produção- 22 a 32 semanas de idade.  

O local de replicação do agente fica restrito a região da cabeça no seio Infaorbitário e dessa forma observamos sinais clínicos de trato respiratório superior, como secreção nasal, conjuntivite, inchaço unilateral ou bilateral da cabeça, conforme as fotos abaixo: 

 


(Fonte: Arquivo pessoal) 

Geralmente os sinais clínicos iniciais são discretos, o que dificulta a percepção pelo responsável do galpão e quando são observados, as aves já estão apresentando um quadro clínico crônico. Observa-se aves com inchaço severo da cabeça, prostração, perda de apetite, desuniformidade do lote, queda na produção de ovos de até 40%, mortalidade das aves que estão mais acometidas, acarretando grande prejuízo econômico. De acordo com o observado a campo, o curso da doença fica em torno de 08 semanas de duração, em que nas duas primeiras semanas tem se uma queda de produção e mortalidade expressiva, e nas semanas seguintes o quadro clínico vai sendo controlado. 

 A transmissão é horizontal e ocorre por contato direto entre as aves, aerossóis, equipamentos, alimentos e água contaminada. Em sistemas de criação onde tem-se bebedouros pendulares ou “bica corrida” essa contaminação acontece de forma mais rápida, uma vez que todas as aves têm a acesso a mesma fonte de água. Nesse caso, o manejo é muito importante para o controle da morbidade (aves doentes) que é alta, apesar de baixa mortalidade. 

Esse tipo de quadro clínico respiratório pode estar associado a outros patógenos como Mycoplasma gallisepticum, Mycoplasma synoviae, Escherichia coli, Gallibacterium anatis, Pasteurella multocida, Bronquite Infecciosa e Pneumovírus aviário (Sarika et al, 2019). Dessa forma o diagnóstico laboratorial é de grande importância para estabelecer as formas de controle, tratamento e prevenção da doença  

À necropsia detalhada das aves com sinais clínicos é de grande importância para o direcionamento das análises laboratoriais. Em aves com quadro de Coriza Infecciosa observa-se lesões macroscópicas de sinusite com presença de massa caseosa no seio infraorbitário, conforme as fotos abaixo: 

 

A coleta de material para laboratório deve ser realizada em aves que apresentem sinais clínicos em estágios iniciais a moderados e que não tenham recebido nenhuma antibioticoterapia. O diagnóstico de Coriza se baseia na análise bacteriológica ou na detecção molecular do agente (PCR), conforme a tabela abaixo: 

 

A bacteriologia geralmente é a mais utilizada pois além de favorecer o isolamento do agente, também contribui para execução do antibiograma e definição de qual a melhor base terapêutica a ser utilizada. Em lotes positivos com alta morbidade recomenda-se a utilização de antimicrobianos via água, ração ou injetável, conforme recomendação do médico veterinário.  Em casos em que seja observadas poucas aves com sintomatologia, recomenda-se fazer a separação e aplicação de antibiótico injetável em aves menos acometidas e eliminação das aves com sintomas severos, a fim de controlar a disseminação da doença.  

Por que em algumas propriedades é tão difícil de controlar os quadros de Coriza? 

A resposta dessa pergunta está na baixa proteção cruzada que esses agentes têm entre si! 

Algumas características da Avibacterium paragallinarum contribuem para a dificuldade de controle da doença mesmo em aves vacinadas com duas doses de vacinas comerciais. Essa particularidade se dá devido à sua composição de membrana que contém as hemaglutininas que lhe conferem uma diferenciação por sorogrupos e não somente por composição genética. A hemaglutinina é o principal componente que confere a patogenicidade e imunogenicidade da Avibacterium paragallinarum (Yamaguchi et al., 1993). 

Essa variação antigênica entre a Avibacterium paragallinarum foi classificada em 03 sorogrupos diferentes: A, B e C (Page, L. A, 1962) e nove sorotipos (Blackall et al., 1990). 

Os sorogrupos possuem uma baixa proteção cruzada entre si e esse é o motivo de termos lotes vacinados que apresentem problemas clínicos de Coriza. Essa afirmativa foi mais bem descrita por Soriano et al,2004, onde aves foram vacinadas e desafiadas com os Sorogrupos específicos de Coriza. Assim aves vacinadas com Coriza Cepa A1 foram desafiadas com a cepa A1 e avaliada a proteção; aves vacinadas com A1 foram desafiadas com Coriza cepa A2 e assim por seguinte, conforme tabela abaixo: 

Dessa forma, observa-se que onde as aves foram vacinadas e desafiadas com cepas semelhantes ou próximas a proteção foi considerada adequada, de 70% a 100% (marcação em Azul). Sendo assim para uma proteção adequada para Coriza Infecciosa é de grande importância que seja utilizada a cepa local na imunização das aves.  

Como controlar? 

O controle da Coriza Infecciosa é realizado com vacinas autógenas, comerciais e as medidas de biosseguridade!    


 Em propriedades que possuem o histórico do problema são utilizadas duas a três doses de vacina para coriza, contabilizando as vacinas autógenas e a vacina comercial. O isolamento bacteriano utilizado no diagnóstico possibilita a geração da cepa local de Coriza Infecciosa e produção da vacina específica para a propriedade que é a vacina autógena! 

Os programas vacinais devem ser configurados conforme a necessidade de cada propriedade, pois a vacinação deve ser realizada antes da idade em que o problema começa. Outro ponto importante no controle da enfermidade é a escolha de qual vacina inicial será utilizada, vacina com adjuvante oleoso que garante uma resposta prolongada ou uma vacina gel onde a proteção é imediata. 

A avaliação de cada caso clínico é extremamente importante, aliado ao diagnostico bem realizado para traçar as estratégias de controle da Coriza Infecciosa! 

Referências: 
Blackall PJ, Eaves LE, Rogers DG. (1990): Proposal of a new serovar and altered nomenclature for Haemophilus paragallinarum in the Kume hemagglutinin scheme. J Clin Microbiol., 28:1185-1187. 
Page, LA (1962): Haemophilus infections in chickens. I. Characteristics of 12 Haemophilus isolates recovered from diseased chickens. Am J Vet Res., 23:85-95. 
Soriano et al (2004): Epizootiología, prevención y control de la coriza infecciosa Veterinaria México, vol. 35, núm. 3, julio-septiembre, 2004, pp. 261-279 
Sarika N, Devigasri C, Surya Sankar and Mini M (2019): A report of natural concurrent infection with Avibacterium paragallinarum and Mycoplasma gallisepticum in Chicken. TPI 2019; 8(1): 16-18 
Yamaguchi T, Kobayashi M, Masaki S, Iritani Y. (1993): Isolation and characterization of a Haemophilus paragallinarum mutant that lacks a hemagglutinating antigen. Avian Dis. 37(4):970-976 

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