Escherichia coli: um agente oportunista?

Escherichia coli é uma bactéria pertencente à família Enterobacteriaceae, com formato
de bastonete, gram negativa, não esporulada e anaeróbica facultativa. Tipicamente coloniza
trato intestinal de várias espécies, incluindo humanos, mamíferos e aves. Porém, ao se falar da
E.coli patogênica de aves (APEC), diversas lesões extraintestinais que incluem aerossaculites,
pericardites, perihepatites, onfalites, celulites, sinovites e síndrome da cabeça inchada podem
estar diretamente associadas a essa bactéria.


Uma das principais causas de mortalidade em plantéis avícolas é a colibacilose (acima
de 20% em alguns casos). Em aves de postura há relatos de até 36% de prevalência desse tipo
de infecção em alguns lotes, o que leva muitas vezes às lesões extraintestinais já citadas aqui.
Sob o ponto de vista do impacto no desempenho zootécnico das aves, essa doença pode afetar
negativamente a conversão alimentar (em torno de 2,7%) e a produção de ovos (quedas de até
20%). Mais especificamente no Brasil, considerando apenas condenações em abatedouros, são
estimados prejuízos anuais em torno dos 10 milhões de reais causados pela E.coli APEC.


Essa bactéria pode atuar como agente oportunista em casos de infecções por outros
agentes que causam lesões no trato respiratório superior (vírus da Bronquite, Mycoplasma
gallisepticum). Estas infecções primárias contribuem para o desenvolvimento da colibacilose nas
aves através da diminuição da ação das barreiras das vias respiratórias superiores, bem como a
exposição à poeira e amônia. No entanto, é importante ressaltar que, em vários experimentos,
as cepas virulentas da E.coli APEC foram o único agente etiológico envolvido, participando,
portanto, como agente primário.

Capacidade de adesão, invasão, produção de toxina, sobrevivência e aquisição de ferro
são fatores ligados à patogenicidade das cepas de E.coli APEC. Existem relatos de mais de 40
fatores associados à colonização do hospedeiro (adesinas/invasinas), à sobrevivência no
ambiente extraintestinal (sistemas de captação de ferro) e ao escape das defesas do hospedeiro
(celular e humoral). Além disso, a capacidade de evolução de E.coli por transferência horizontal
de genes entre cepas auxilia a adaptação em novos ambientes e contribui também para a
capacidade de aquisição dos fatores de virulência citados acima.


O tempo entre infecção e início dos sinais clínicos é variável, geralmente de 1 a 7 dias,
de acordo com a virulência e a quantidade do agente presente. Morbidade e mortalidade
também variam bastante pelos mesmos motivos.


Como medidas de prevenção e controle, a associação entre medidas inespecíficas de
manejo (devido aos aspectos multifatoriais que podem desencadear a doença como ambiência,
nutrição e procedimentos operacionais) e a utilização de vacinas específicas (autógenas) podem
auxiliar a minimizar os danos causados por essa doença.


Portanto, a E.coli é responsável por grandes prejuízos econômicos na avicultura
industrial, uma vez que impacta tanto em mortalidade quanto em desempenho das aves, além
do custo com profilaxia e tratamentos. A estratégia a ser adotada para controle da doença é
crucial para a viabilidade da atividade avícola.

 

Por: Victor Minoru – médico veterinário

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