A Glaesserella (Haemophilus) parasuis é uma bactéria gram negativa, pertence à família Pasteurellaceae, e tem grande importância na suinocultura por ser o agente etiológico da doença de Glässer (DG).
Atualmente, existem 15 sorotipos tipificáveis da Glaesserella. Esses diferentes sorovares são definidos pela técnica de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) ou precipitação em ágar gel, e classificados em diferentes graus de patogenicidade em relação a mortalidade e potencial causador da DG. Os sorovares considerados de alta patogenicidade são o 1, 5, 10, 12 e 14; com destaque para os sorovares 1 e 5 que podem causar maior índice de mortalidade. Os sorovares 2, 4, 8 e 15 são considerados de moderada patogenicidade seguido pelos sorovares 3, 6, 7 e 9 considerados de baixa patogenicidade ou apatogênicas.
Castilla et al. (2012) demonstrou em pesquisa realizada com amostras de isolamento bacteriano de diferentes estados brasileiros, a prevalência dos sorotipos: 4 (26,1%), 5 (17,4%), 14 (8,7%), 13 (4,4%) e 2 (4,4%). Sendo que os sorotipos não tipificáveis tiveram prevalência maior que os demais, representando 38% das amostras. Esse resultado reforça a complexidade do controle dessa enfermidade devido a variabilidade de cepas presentes no plantel brasileiro e a baixa ou nenhuma imunidade cruzada entre os sorovares. O impacto da enfermidade na suinocultura nacional é imensurável devido aos custos com fármacos e vacinas para o seu controle, mortalidade dos animais, refugagem e perdas nos frigoríficos.
Sinais Clínicos e lesões
A Doença de Glässer acomete principalmente leitões na fase de creche, porém pode ser identificado em todas as fases de criação dos suínos. A mortalidade causada varia de acordo com alguns fatores como imunidade do rebanho, atuação de outros agentes do complexo respiratórios, manejo da granja e sorovares envolvidos, podendo chegar até impressionantes 30% de mortalidade. De acordo com Aragon et al. (2019) a mortalidade média de animais acometidos na fase de creche varia entre 5-10%.
Os sinais clínicos são apresentados nos leitões, normalmente, por volta das 4-8 semanas de vida, podendo ser identificado respiração abdominal, febre (40,5 Cº), apatia, artrite e claudicação. Quando a bactéria atinge o cérebro pode-se identificar sintomatologia nervosa como tremores, incoordenação motora, decúbito lateral e movimentos de pedalagem. Observa-se em alguns casos de infecção aguda morte súbita em até 48h, sem lesões macroscópicas visíveis nos leitões.
Dentre as lesões mais comuns estão a poliserosite causada pela bactéria quando atinge a superfície dos órgãos, causando lesão vascular inflamatória e como consequência, extravasamento de líquido e fibrina. O exsudato fibrinoso pode ser encontrado em órgãos da cavidade torácica (Figura 1A) e abdominal (Figura 1B); nas articulações e até nas meninges. Os suínos afetados pela fase crônica da doença de Glassër podem apresentar fibrose do pericárdio (Figura 1C), pleuras e do peritônio provocando fortes aderências dessas serosas (Figura 1D), além de uma poliartrite crônica.
Figura 1. Lesões causadas pela doença de Glässer. A- Poliserosite (cavidade torácica); B- Poliserosite com exsudato serofibrinoso (cavidade abdominal); C- Pericardite cônica; D- Aderências na cavidade torácica.
Diagnóstico
A Glaesserella (haemophilus) parasuis é uma bactéria presente em todas as granjas brasileiras, e um agente comensal do trato respiratório dos suínos. Desta forma, é imprescindível associar o isolamento bacteriano ao sítio de isolamento e técnica de tipificação para entender qual é o sorovar prevalente e sua relevância frente ao quadro sanitário do plantel.
O histórico clínico associado as lesões macroscópicas podem indicar a presença do agente no rebanho, entretanto, apenas o diagnóstico laboratorial poderá confirmar A Glaesserela p. como responsável pelas perdas do lote. Na microscopia observa-se infiltrado inflamatório nos tecidos acometidos com presença de neutrófilos e mononucleados, normalmente associado a presença de exsudato fibrinoso nas serosas afetadas. Sendo assim, esses achados macroscópicos mais o isolamento do agente dos órgãos coletados nos leva a um diagnóstico conclusivo.
Os principais órgãos a serem coletados são os afetados pela poliserosite, como por exemplo o fígado, baço e coração/pericárdio. Realizar os swabs das áreas afetadas como pleura e pericárdio, além de coleta do líquido fibrinopurulento da cavidade abdominal, pericárdio e articulações. Lembrando de evitar contaminações e enviar esse material resfriado.
O isolamento da bactéria acontece no meio ágar-sangue, e por ser um agente NAD dependente para crescimento, sua semeadura na placa precisa ser associada a estrias transversais do agente Staphylococcus sp.. Técnica que permite a hemólise das hemácias e liberação dos fatores necessários para o crescimento da bactéria, que será identificada em colônias translúcidas próximas a estria realizada (Figura 2).
Figura 2. Colônias translúcidas de Glaesserella (Haemophilus) parasuis próximas as estrias de Staphylococcus sp.
Controle e vacinação
Quando a doença de Glässer acomete o plantel de suínos a antibioticoterapia pode amenizar a mortalidade e diminuir os sinais clínicos dos animais. A amoxicilina e a enrofloxacina têm sido utilizadas com eficiência no controle da enfermidade após os animais apresentarem os sinais clínicos. Entretanto a profilaxia tem sido a melhor conduta a se adotar no controle da enfermidade.
A vacinação dos suínos tem um papel importante no controle profilático da bactéria. De acordo com Cerdà-Cuellar et al. (2010) a vacinação de porcas no terço final da gestação inibe a colonização do trato respiratório dos leitões, filhos de porcas vacinadas, pela Glaesserella parasuis nos primeiros 20 dias de vida. Em seguida, o ideal seria vacinar os leitões após a queda da imunidade materna (21 dias) com reforço da dose para garantir a proteção do animal no período da creche em diante.
Levando em consideração a variabilidade dos sorovares que podemos ter em uma única granja, e a imunidade cruzada ser parcial ou insuficiente entre eles, as vacinas autógenas se destacam por sua eficácia. Além disso, a inserção dos agentes isolados de surtos da doença procedentes de líquidos serofibrinosos ou de órgãos afetados pela poliserosite nas vacinas autógenas aumentam a assertividade do imunizante.
A INATA junto ao Laudo Laboratório, não só isola e identifica os principais sorotipos circulantes em sua granja, mas, também produz vacinas autógenas virais e bacterianas, como para a Glaesserella parasuis.
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Artigo escrito por Guilherme Arruda Cezar, Médico Veterinário, integrante da Equipe Técnica e Comercial da Inata
Referências
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