Por Matheus Reis
A rotavirose é uma das principais gastroenterites virais em neonatos de diferentes espécies, incluindo o homem. Apesar dos rotavírus estarem relacionados antigenicamente, o rotavírus suíno acomete apenas a espécie suína.
Em suínos, os surtos de diarreia ocorrem principalmente em leitões lactentes, mas pode ocorrer também na fase de creche, o que leva a prejuízos econômicos relacionados a mortalidade, refugagem, perda de peso e uso disseminado de medicamentos.
Atualmente tem-se descrito os grupos de rotavírus (RV) A, B, C e H em suínos as infecções pelos tipos A (RVA) e C (RVC) são as mais frequentes em suínos e, portanto, são as mais estudadas.
O Rotavírus suíno está presente na maioria dos planteis mundiais e estudos mostram que a maioria dos suínos adultos apresentam anticorpos contra o agente, ou seja, foram infectados em algum momento e podem ou não ser portadores.
Patogenia
A categoria de animais frequentemente mais afetada são os leitões entre 2 a 6 semanas, que são expostos ao vírus por animais portadores e em ambientes contaminados, e podem desenvolver a doença clínica ou subclínica.
Uma característica importante do agente é a sua resistência às condições ambientais e a desinfetantes, o que assegura a sua sobrevivência nas instalações de criação de suínos, tornando o vírus endêmico no plantel. O RV pode ser encontrado em fezes e manter sua infectividade por 7 a 9 meses em temperatura ambiente.
O período de incubação varia de 2 a 4 dias e a transmissão é fecal-oral. O vírus tem tropismo por enterócitos maduros e acomete o intestino delgado invadindo e destruindo as vilosidades do epitélio intestinal.
O resultado é a atrofia das vilosidades que ocasionam a má absorção e diarreia osmótica, que dificultam a digestão de açúcares e transporte celular de nutrientes e eletrólitos que levam o leitão à: desidratação, deficiência de energia e hipoglicemia.
A doença pode ocorrer na forma de casos esporádicos e em grandes surtos. Os principais sinais clínicos da rotavirose são:
- Anorexia;
- Vômitos ocasionais;
- Diarreia;
- Aumento da mortalidade e alta morbidade dos leitões acometidos na maternidade.
A frequência e gravidade dos sintomas dependem:
- da dose infectante;
- da imunidade adquirida pela ingestão de anticorpos maternais do colostro/leite;
- envolvimento de outros enteropatógenos (E. coli, Clostridium perfringens/C. dificille, Cystoisospora suis);
- A mortalidade varia entre 3 a 20%; quando a infecção ocorre associada a outros agentes entéricos, pode haver manifestações clínicas mais graves refletindo em mortalidade mais elevada.
A proteção dos anticorpos maternos persiste por 3 a 4 semanas e os surtos ocorrem frequentemente quando os leitões ultrapassam essa idade, ou quando não receberam níveis de proteção dos anticorpos maternais suficientes para proteção contra o grau de exposição ao vírus.
Diagnóstico
Para o diagnóstico da rotavirose em suínos, deve-se buscar detectar a presença do agente no intestino ou fezes, por uma ou mais técnicas, e demonstrar a existência de lesões pela histopatologia. Para detecção do agente, a técnica mais comumente utilizada é a PCR. Isolamento viral ou imunocromatografia também podem ser utilizados. o processo de isolamento viral realiza-se tratamento das amostras com antibióticos. Dessa forma, fezes de animais previamente medicados continuam sendo aptas a esse teste.
É importante a coleta de material dos animais com sinais clínicos evidentes e iniciais. Para detecção do agente e de outros patógenos entéricos, sugere-se enviar ao laboratório os intestinos dos animais necropsiados e pool de fezes de diferentes baias acometidas. Devido à semelhança dos sinais clínicos causados pela rotavirose e por outras infecções entéricas em leitões jovens, é aconselhável que o diagnóstico considere os principais diagnósticos diferenciais, como colibacilose, coccidiose e clostridioses.
Para realização de histopatologia devem ser enviados fragmentos de diferentes porções do intestino (jejuno, íleo, ceco e cólon) e órgãos parenquimatosos como linfonodos mesentéricos, fígado e baço; fixados em formol a 10%. A histopatologia é importante para demonstrar se há ou não lesões compatíveis com a doença, uma vez que alguns animais podem ser positivos para o vírus, mas não apresentar lesões. Também, o PCR ou isolamento podem ser negativos dependendo do curso clínico da doença, mas as alterações microscópicas ainda assim poderiam ser observadas e permitir o diagnóstico. Abaixo seguem algumas fotos de lesões microscópicas que podem ser observadas na rotavirose.
Legendas:
A: Os enterócitos do topo das vilosidades apresentam-se vacuolizados (seta). Na lâmina própria observa-se edema e células inflamatórias (asterisco);
B: Com a ação do vírus, as células sofrem necrose e se desprendem da vilosidade, deixando-a “desnuda” (seta);
C: Com a evolução do quadro, ocorre atrofia (encurtamento) das vilosidades, o que diminui a capacidade de absorção do intestino;
Essas lesões são bastante sugestivas da rotavirose, embora elas ainda possam ser causadas por outros vírus entéricos de pouca relevância clínica ou por vírus exóticos no Brasil, como o coronavírus da diarreia epidêmica suína (PED). A demonstração do Rotavírus nas lesões histológicas pode ser feita por imuno-histoquímica ou hibridização in situ, se disponíveis.
Controle
O uso de antibióticos não é eficaz para combater o vírus, porém, pode ser indicado em caso de ocorrência de doenças bacterianas concomitantes.
Fatores predisponentes para a ocorrência da doença devem ser observados, como:
- Baixa temperatura ambiental;
- Má nutrição da porca e leitões
- Qualidade/ingestão de colostro;
- Exposição dos leitões a grandes quantidades de partículas virais infectantes;
- Limpeza e desinfecção das baias (uso de desinfetantes com ação viral);
- Vazio sanitário.
A Inata Biológicos, sendo a primeira empresa do Brasil a produzir vacinas autógenas virais, traz mais essa solução para a Suinocultura:
Vacina Autógena Viral – ROTAVÍRUS (A):
Baseada nos isolamentos da sua granja.
Possibilidade de inclusão de agentes bacterianos secundários, que exacerbam os desafio entéricos como E.coli e Clostridium perfringens
Modo de Usar:
Vacinação das Matrizes aos 70 e 90 Dias de gestação no primeiro giro, depois manter a vacinação aos 90 dias de gestação
Vacinação da Leitoas: aos 70 e 90 Dias de gestação.
Conclusão
O controle da rotavirose suína está atrelado a um diagnóstico laboratorial assertivo, fortalecimento da biosseguridade, boas práticas de manejo como protocolos de limpeza e desinfecção das instalações, bom manejo de colostro e, sobretudo, o aumento da imunidade do plantel, com a vacinação das matrizes e leitoas preferencialmente com os agentes isolados na granja.
Matheus Reis
Médico Veterinário